Após decisão do STF, aliados intensificam ações para defender Bolsonaro nas redes enquanto ex-presidente é obrigado a se afastar da comunicação pública
Jair Bolsonaro e Maurício do Vôlei (Foto: Reprodução (Redes Sociais))
Três dias após ser alvo de medidas cautelares determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro iniciou um período de recolhimento estratégico para evitar punições ainda mais severas. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que relatou a mobilização do Partido Liberal (PL) para manter o ex-presidente em evidência nas redes sociais, mesmo após a imposição de restrições à sua comunicação pública.
Na segunda-feira (21), deputados federais do PL realizaram uma reunião na sede da liderança do partido na Câmara dos Deputados para debater formas de sustentar o discurso bolsonarista. A principal preocupação foi manter a militância mobilizada e o engajamento digital elevado em defesa de Bolsonaro, que está proibido de utilizar as redes sociais e participar de transmissões ao vivo — mesmo em perfis de terceiros — sob risco de prisão, conforme determinação do ministro Alexandre de Moraes.
☆ Tornozeleira e silêncio imposto
Bolsonaro exibiu publicamente a tornozeleira eletrônica que passou a usar após a decisão judicial. Na última sexta-feira (18), ele concedeu entrevistas e falou com jornalistas em pelo menos cinco ocasiões, mas, após novas orientações de seus advogados, decidiu cancelar duas entrevistas previstas para a segunda-feira, temendo descumprir a ordem judicial e ser preso.
"Bolsonaro gostaria de falar a toda a imprensa nacional. Entretanto, por mais uma ordem de censura do ministro Alexandre de Moraes, preventivamente os seus advogados recomendaram não falar mais com a imprensa. Essa é a democracia relativa que estamos vivendo", afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder da bancada, durante coletiva no Salão Verde da Câmara.
☆ Mobilização nas redes e alinhamento do discurso
Para driblar o silêncio do ex-presidente, os deputados federais do PL decidiram intensificar publicações em suas próprias redes, com pressão sobre parlamentares menos ativos digitalmente. O plano inclui abastecer colegas menos familiarizados com redes sociais com conteúdos prontos, buscando alinhamento na defesa de Bolsonaro em meio ao acirramento das investigações contra ele.
Inicialmente, o encontro tinha como objetivo discutir mobilizações nacionais, prioridades legislativas para o semestre e estratégias de comunicação. Contudo, a proibição de entrevistas imposta a Bolsonaro dominou as discussões.
☆ Tensão com Eduardo Bolsonaro e o tarifaço de Trump
Entre as restrições impostas a Bolsonaro está também a proibição de manter contato com seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atualmente nos Estados Unidos. A restrição foi descrita pelo ex-presidente como a mais dolorosa entre as sanções recebidas. Eduardo tem desempenhado papel-chave na articulação internacional da família Bolsonaro, especialmente após o recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o tarifaço de 50% contra produtos brasileiros, decisão justificada pelo republicano em razão dos julgamentos do STF contra Bolsonaro.
Eduardo vinha se opondo publicamente a alternativas diplomáticas para resolver a questão das tarifas, incluindo críticas diretas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que buscava solução negociada com empresários e autoridades norte-americanas. “Subserviência servil às elites”, chegou a dizer Eduardo sobre a iniciativa de Tarcísio.
☆ Crise no bolsonarismo e tentativa de pacificação
A tensão interna no bolsonarismo levou o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI) a articularem um cessar-fogo, envolvendo também Jair Bolsonaro e seu filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), senador pelo Rio de Janeiro. A ofensiva buscou encerrar o embate entre Eduardo e Tarcísio.
Em entrevista ao site Poder360, Bolsonaro sinalizou um tom conciliador: “Hoje foi botada uma pedra em cima. Conversei com Eduardo e conversei com o Tarcísio. E está tudo pacificado. Tarcísio continua sendo meu irmão mais novo e vamos em frente. Não podemos dividir. O Tarcísio é um tremendo de um gestor. Nada de crítica para ele. Se tiver, é por telefone pessoal”, disse.No entanto, a tentativa de pacificação durou pouco. A declaração de Bolsonaro sobre a falta de maturidade política de Eduardo incomodou o deputado, que telefonou ao pai para cobrar esclarecimentos. Após o episódio, o ex-presidente mudou novamente de postura, defendendo Eduardo em entrevista à CNN Brasil e elevando o tom contra Tarcísio.
“Eduardo tem 40 anos de idade, uma pessoa que tem responsabilidade. Esta aí abrindo mão, é o deputado mais votado da história do Brasil, ele tem consciência que se ele voltar pra cá ele vai ser preso. Tem que ser reconhecido o trabalho dele. Não adianta um governador de estado, com todo o respeito que tenho a ele, tentar resolver dentro do seu estado, que não vai resolver o assunto. Resolve é lá (nos EUA). O Eduardo está à disposição de qualquer governador para tratar desse assunto”, declarou Bolsonaro, em trecho que ele próprio divulgou nas redes sociais.
O episódio expôs a divisão dentro do bolsonarismo em um momento delicado para Bolsonaro, que se vê forçado ao silêncio e sob rígida vigilância judicial. Diante do vácuo na comunicação direta do ex-presidente, aliados do PL buscam compensar a ausência com uma atuação coordenada nas redes. Ao mesmo tempo, o partido tenta administrar disputas internas cada vez mais evidentes em meio à pressão internacional promovida por Donald Trump contra o Brasil.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Estado de S. Paulo