Presidente alerta para o risco de colapso da ordem global e propõe reconstrução das instituições multilaterais com justiça, inclusão e solidariedade
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) publicou, nesta sexta-feira (11), um artigo de grande repercussão internacional em alguns dos principais jornais do mundo, como Le Monde (França), El País (Espanha), The Guardian (Reino Unido), Der Spiegel (Alemanha), Corriere della Sera (Itália), Yomiuri Shimbun (Japão), China Daily (China), Clarín (Argentina) e La Jornada (México). No texto, Lula faz um chamado urgente à reconstrução do multilateralismo como resposta ao avanço das guerras, das desigualdades e da destruição ambiental.
Segundo o presidente brasileiro, 2025 deveria ser um ano de celebração pelos 80 anos da criação da ONU, mas corre o risco de ser lembrado como o marco do colapso da ordem internacional instituída em 1945. “As fissuras já eram visíveis há muito tempo”, afirma. Ele cita como exemplos a invasão ao Iraque, a intervenção na Líbia e a guerra na Ucrânia, criticando o uso recorrente da força por membros permanentes do Conselho de Segurança. E acrescenta: “a omissão diante do genocídio em Gaza representa uma negação dos valores mais básicos da humanidade”.
Lula também denuncia a deterioração do sistema de comércio global. Ele afirma que o multilateralismo comercial está sendo ameaçado por medidas unilaterais, como tarifas protecionistas, que desorganizam cadeias de valor e geram estagnação com inflação. O presidente lamenta o esvaziamento da OMC e o abandono da Rodada de Doha.
Ao analisar os efeitos da crise financeira de 2008, Lula responsabiliza a agenda neoliberal pela decisão de “salvar os super-ricos e grandes corporações às custas de cidadãos comuns e pequenos negócios”, o que aprofundou a desigualdade social. Ele aponta que o 1% mais rico do planeta acumulou, na última década, US$ 33,9 trilhões — valor 22 vezes superior ao necessário para erradicar a pobreza no mundo.
Outro ponto central do artigo é o alerta contra o enfraquecimento do Estado e a perda de confiança nas instituições públicas, que abre espaço para o avanço de projetos políticos extremistas e autoritários. “A insatisfação tornou-se terreno fértil para narrativas extremistas que ameaçam a democracia e promovem o ódio como projeto político”, escreve.
Lula também critica o abandono da cooperação internacional em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apontando a burocracia e as condições abusivas impostas a países em desenvolvimento. “Não se trata de caridade, mas de reparar séculos de exploração, interferência e violência contra os povos da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia”, afirma.
Sobre as mudanças climáticas, o presidente ressalta que os países pobres são os que mais sofrem com os impactos, embora os mais ricos tenham maior responsabilidade histórica pelas emissões de carbono. Ele lembra que 2024 foi o ano mais quente da história e denuncia o descumprimento das promessas financeiras feitas na COP15, enquanto os gastos militares da OTAN seguem aumentando.
Para Lula, as instituições multilaterais ainda são indispensáveis e seus benefícios são concretos, como demonstram os avanços na erradicação da varíola, a preservação da camada de ozônio e a proteção dos direitos trabalhistas. No entanto, ele reconhece que a arquitetura institucional atual está ultrapassada: “se as organizações internacionais parecem ineficazes, é porque sua estrutura não reflete mais a realidade contemporânea”.
O presidente encerra o artigo com um apelo à diplomacia e à reconstrução de um multilateralismo verdadeiro, capaz de responder às angústias da humanidade. “É preciso reencontrar os fundamentos do verdadeiro multilateralismo — aquele que possa responder ao clamor de uma humanidade angustiada com o seu futuro”, escreve. E conclui: “só assim deixaremos de assistir, passivamente, ao avanço da desigualdade, ao absurdo da guerra e à destruição do nosso próprio planeta”.
Com essa publicação em diversos jornais influentes, Lula reafirma a posição do Brasil como defensor de uma ordem internacional pautada pelo diálogo, pela justiça e pela cooperação entre os povos. Em sua presidência do G20 em 2024, e agora à frente dos BRICS e da COP30, o país tem buscado mostrar que é possível encontrar consensos mesmo em cenários adversos.
Fonte: Brasil 247
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