Exportações em queda devem elevar oferta interna e derrubar preços, mas impacto sobre a inflação será limitado, segundo especialistas
A recente confirmação de um caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul, seguida de restrições à importação do frango brasileiro por parte de alguns países, deve levar a uma queda no preço da carne de frango no mercado interno, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo.
A expectativa entre analistas é que o aumento da oferta doméstica da proteína, em decorrência da retração das exportações, resulte em uma leve queda no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial. Estimativas variam entre -0,05 ponto e -0,10 ponto percentual nos próximos meses.
⊛ Oferta maior, preços em queda - Adriano Valladão, economista especializado em inflação no banco Santander, calcula que os preços do frango podem recuar de 3% a 5% como consequência direta da sobreoferta. "A estimativa é bem preliminar, devido às elevadas incertezas sobre o que vai acontecer", afirmou. Ele avalia que parte da produção que não será enviada ao exterior deverá ser redirecionada ao mercado interno, o que deverá provocar uma redução nos preços.
Essa pressão negativa sobre o preço do frango pode ainda gerar efeitos secundários sobre outras proteínas. "Se a demanda pelo frango aumentar, a tendência é que os produtores de outras proteínas reduzam preços para atrair consumidores", disse Valladão, referindo-se à carne bovina e suína.
Apesar desse efeito esperado no curto prazo, a tendência é que o mercado se reequilibre rapidamente. “O ciclo do frango tende a ser rápido, e a sobreoferta precisa ser desovada, em um efeito que acaba acontecendo no curto prazo. Mas em seguida vem a normalização da oferta”, explicou o economista do Santander.
⊛ Indústria frigorífica em alerta - A corretora Warren Investimentos também projeta um impacto pequeno no IPCA, dentro da mesma faixa de -0,05 a -0,10 ponto percentual. A empresa destacou ainda que a perspectiva de aumento da competição entre as proteínas já provocou queda nos contratos futuros do boi gordo. Em relatório, a corretora avaliou: “no mercado físico, será preciso enxergar como essa competitividade entre as carnes impactará a indústria frigorífica brasileira”.
⊛ Realocação das exportações é fator-chave - José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro, reforça que a magnitude do impacto dependerá da realocação do volume exportado no consumo interno. Ele exemplifica: “a China compra em torno de 11% das exportações brasileiras de frango. Se todo esse volume fosse realocado e absorvido pelo mercado interno, haveria uma alta de 6% no consumo do Brasil”.
Para Hausknecht, o cenário é de curto prazo e tende a ser superado à medida que as restrições forem suspensas. Ele destaca que o Brasil tem capacidade de negociação ampliada nesse contexto, já que diversos países também enfrentam surtos da doença. “Os próprios países que restringiram importações, como a China, possuem um monte de casos recorrentes de gripe aviária”, afirmou.
Apesar das perdas nas exportações, o impacto mais direto da gripe aviária tende a ser um alívio temporário nos preços da carne de frango ao consumidor brasileiro. A mudança no mercado, contudo, será moderada e passageira, sem grandes repercussões sobre o índice geral de inflação.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo
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