quinta-feira, 10 de julho de 2025

Guerra comercial de Trump contra o Brasil deve reaproximar Lula de empresários e do agronegócio

Governo avalia que medida abre espaço para isolar Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas e recuperar apoio de setores produtivos

Fernando Haddad e Lula
Fernando Haddad e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi interpretado como uma inesperada oportunidade política pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

De acordo com interlocutores do presidente ouvidos pelo Metrópoles, a medida adotada por Trump pode funcionar como um “presente” para o governo brasileiro, ao abrir caminho para uma reaproximação com setores empresariais historicamente alinhados ao bolsonarismo. A avaliação é de que a decisão do governo norte-americano causa incômodo generalizado entre produtores, inclusive no agronegócio, e pode favorecer uma reconstrução do diálogo com os setores produtivos — nos moldes do que ocorreu nos dois primeiros mandatos de Lula.

◆ Desgaste para Bolsonaro e Tarcísio - A taxação anunciada de forma repentina por Trump, apontada como retaliação à investigação que Jair Bolsonaro (PL) enfrenta no Supremo Tribunal Federal (STF), já provocou reação contrária inclusive entre parlamentares da oposição. A Frente Parlamentar do Empreendedorismo e a Frente Parlamentar da Agropecuária se manifestaram criticamente à medida dos Estados Unidos e cobraram atuação do governo brasileiro.

Além de verem uma oportunidade de reforçar a interlocução com o empresariado, auxiliares do presidente Lula também enxergam um movimento estratégico que pode minar as pretensões eleitorais de figuras como Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. O deputado licenciado, que está nos EUA desde fevereiro articulando sanções contra o Brasil, é apontado por setores da esquerda como responsável por estimular ações prejudiciais à economia nacional. “Não tenho dúvidas, quero reafirmar: ele disse que ia prejudicar Alexandre de Moraes e prejudicou todo o Brasil”, afirmou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também foi criticado por apoiar recentemente declarações de Trump. “Qual a posição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas? Há dois dias aplaudiu o Trump quando disse que só o povo podia julgar Bolsonaro”, disparou Lindbergh, em referência à postagem feita pelo governador.

◆ Empresariado reage à tarifa - A reação mais contundente veio justamente de setores tradicionalmente simpáticos a Bolsonaro. O deputado Joaquim Passarinho (PL-PA), presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, afirmou: “vejo com tristeza para a economia brasileira, somos um grande parceiro americano… Acho que o presidente exagera muitas vezes nesse tipo de colocação”. Embora tenha criticado Trump, Passarinho também cobrou do governo Lula uma maior capacidade de articulação internacional: “falta um interlocutor com governo americano. Ele precisa ter um interlocutor melhor”.

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), por sua vez, alertou para os efeitos econômicos diretos da medida anunciada pela Casa Branca. “A medida, comunicada por meio de carta oficial enviada ao governo brasileiro, representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países”, destacou o grupo liderado pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR), em nota oficial.

◆ Lula promete reciprocidade - A resposta oficial do governo brasileiro foi articulada com base na Lei de Reciprocidade Econômica. Segundo o presidente Lula, caso os Estados Unidos não recuem na taxação, o Brasil adotará medidas semelhantes contra produtos norte-americanos.

◆ Contexto geopolítico - Desde o início de seu segundo mandato, Donald Trump tem endurecido sua retórica comercial, com foco especial nos países que compõem o BRICS — bloco do qual o Brasil faz parte. Ele já ameaçou aplicar tarifas de até 100% aos países do grupo que, segundo ele, não respeitam os “interesses comerciais dos EUA”.

No caso do Brasil, a taxação veio acompanhada de críticas diretas. “O Brasil não está sendo bom para os EUA”, afirmou Trump, ao justificar a medida. A fala intensificou ainda mais o clima de tensão entre os dois países.

Fonte: Brasil 247 com informações do Metrópoles

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