Mesmo após a tragédia, vídeos com variações do desafio continuam no TikTok e no Kwai, apontam pesquisadora e relatório
Apesar da comoção nacional causada pela morte de Sarah Raíssa Pereira de Castro, de apenas 8 anos, em abril deste ano, vídeos promovendo o chamado “desafio do desodorante” seguem circulando em plataformas populares como o TikTok e o Kwai. A informação foi revelada em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, que reuniu dados de uma pesquisa coordenada pela psicóloga Fernanda Rasi Madi, especializada em conteúdos violentos nas redes.
Segundo o estudo, mesmo após a tragédia, os vídeos não apenas continuam disponíveis, como também ganham novas versões — entre elas, práticas que envolvem a queima da pele com aerossol ou o uso prolongado do spray até a explosão do recipiente. A pesquisa mostra ainda que os vídeos são, muitas vezes, publicados com hashtags relacionadas à saúde mental, o que, segundo Madi, "demonstra a tentativa de alcançar adolescentes psicologicamente vulneráveis".
◉ Desafios servem de porta de entrada para conteúdo extremo - A coleta de dados realizada entre 15 de abril e 7 de maio identificou mais de 30 vídeos relacionados ao desafio do desodorante, acumulando desde algumas dezenas até mais de 84 mil curtidas e milhões de visualizações. O levantamento também concluiu que nem todos os conteúdos incentivam diretamente a realização dos desafios. Há publicações que aparentam ser alertas, mas acabam funcionando como tutoriais velados.
Para Madi, esse tipo de material representa a porta de entrada para uma espiral de dessensibilização que pode levar os jovens a ambientes virtuais mais radicais e perigosos. “Eles criam missões em troca de recompensas como fama e validação social”, explica. A especialista destaca que há grupos extremistas se aproveitando dessa lógica para recrutar adolescentes, muitas vezes por meio de jogos ou desafios aparentemente inofensivos.
“A permanência desse conteúdo nas redes evidencia a fragilidade dos mecanismos de moderação, sobretudo diante de públicos tão vulneráveis”, alertou.
◉ Plataformas minimizam responsabilidade e mantêm respostas genéricas - A reportagem da Folha enviou quase 30 links com vídeos do desafio ao TikTok. A empresa respondeu que os conteúdos foram "minuciosamente revisados" e que aqueles que violam as diretrizes foram removidos — sem, no entanto, informar quantos ou quais conteúdos foram de fato excluídos.
Em nova resposta, a plataforma afirmou que, entre outubro e dezembro de 2024, mais de 153 milhões de vídeos foram removidos globalmente, sendo que 20,8% deles violavam diretrizes relacionadas à saúde mental e comportamental. “Mantemos esforços contínuos para moderar e remover prontamente esse tipo de conteúdo”, limitou-se a declarar em nota.
O Kwai, também citado no relatório como repositório de vídeos com desafios perigosos, não respondeu aos questionamentos.
◉ Investigação policial ainda sem conclusão - Passado mais de um mês da morte de Sarah Raíssa, a investigação conduzida pela Polícia Civil não apresentou novas informações. De acordo com as autoridades, não há atualizações desde 14 de abril, quando o delegado responsável, Walber José de Sousa Lima, informou que o celular da menina estava sob perícia.
Na ocasião, o delegado afirmou que buscava identificar os autores e replicadores do conteúdo relacionado ao desafio. Caso sejam encontrados, os responsáveis podem ser enquadrados por homicídio duplamente qualificado, com penas que podem chegar a 30 anos de reclusão. Ainda não foi confirmado oficialmente em qual plataforma a menina teve acesso ao vídeo que pode ter motivado sua morte.
◉Lula e Janja expõem a Xi Jinping os abusos da plataforma chinesa - Recentemente, em jantar oferecido pelo presidente chinês, Xi Jinping, o presidente Lula (PT) e a primeira-dama, Janja, expuseram ao líder do país asiático problemas relacionados à rede social chinesa.
Ao contrário do que foi veiculado por setores da imprensa brasileira, não houve qualquer incidente diplomático entre Brasil e China na ocasião. A conversa entre os líderes girou em torno de um tema sensível e urgente: os perigos que as redes sociais impõem a crianças e adolescentes.
Durante o encontro, Janja relatou o caso da menina Sarah Raíssa e o presidente Lula, por sua vez, propôs formalmente a Xi Jinping o envio de um representante de confiança do governo chinês ao Brasil para discutir a regulamentação do ambiente digital, em especial o funcionamento do TikTok. “Perguntei ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital, e sobretudo o TikTok”, declarou Lula antes de deixar a China.
A resposta do presidente chinês foi direta: ele reconheceu o direito do Brasil de regulamentar as plataformas, ressaltando que essa também é uma preocupação interna na China. O TikTok, por sua vez, enviou uma carta oficial ao governo brasileiro, por meio do Itamaraty, manifestando disposição para o diálogo.
Fonte: Brasil 247