Objetivo é atrair, além de PCdoB e PV, também PSB e PDT. O plano, porém, encontra resistência
Diante de sucessivas derrotas no Congresso Nacional e da escalada de tensão entre os Poderes, o Palácio do Planalto decidiu reativar uma estratégia política de peso: a formação de uma superfederação com partidos do campo progressista. A proposta foi levada nesta semana a lideranças do PCdoB, PV, PSB e PDT, num esforço para fortalecer a base governista no Parlamento e se preparar para as eleições de 2026, informa o Metrópoles.
A ofensiva ganhou força após um revés emblemático: a derrubada do decreto presidencial que reajustava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), articulada pela Câmara dos Deputados, mesmo após o governo ter recuado da proposta inicial para evitar confrontos. A queda da medida marcou a primeira vez, desde Fernando Collor, que um decreto do Executivo é derrubado pelo Legislativo, evidenciando a fragilidade da articulação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo com o espaço oferecido ao Centrão na Esplanada dos Ministérios.
★ Reações discretas, mas sem entusiasmo - A proposta de criar uma superfederação não causou rejeição entre os interlocutores partidários, mas tampouco despertou entusiasmo imediato. Entre os principais pontos de resistência, está a preocupação de partidos menores em perder protagonismo dentro de uma estrutura dominada pelo PT, maior força parlamentar entre os possíveis integrantes.
No caso do PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin e responsável pelos ministérios da Indústria e Comércio e do Empreendedorismo, a aproximação com o PT enfrenta dificuldades. Dirigentes socialistas avaliam que uma aliança formal tornaria o partido ainda mais frágil diante da hegemonia petista. Além disso, já há uma negociação adiantada com o Cidadania para formação de outra federação, que deve ser oficializada em breve.
O PDT, por sua vez, enfrenta um distanciamento ainda maior. Após a exoneração de Carlos Lupi do Ministério da Previdência, motivada por denúncias de irregularidades no INSS, a legenda rompeu com o governo e afastou sua bancada das deliberações governistas. Desde então, os pedetistas têm se aproximado de setores mais conservadores do Congresso, distanciando-se do eixo centro-esquerda que o Planalto tenta reunir.
★Derrotas recentes acentuam crise com Legislativo - As dificuldades de articulação política do governo vieram à tona com maior intensidade em junho, quando o Executivo decidiu aumentar o IOF para reforçar a arrecadação em cerca de R$ 20 bilhões. A medida visava cumprir a meta fiscal de 2025, mas sofreu forte resistência do Congresso. Mesmo após um acordo inicial que previa o envio de uma Medida Provisória para recompor as perdas em caso de recuo, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), surpreendeu ao colocar em votação — e aprovar — a anulação do reajuste antes do prazo combinado.
O resultado foi uma derrota acachapante para o Planalto, que obteve apenas 98 votos. A votação escancarou a falta de coesão da base governista, que em tese deveria garantir maioria confortável. Como resposta, o governo alertou para o risco de bloqueio de emendas parlamentares e cortes em programas sociais, caso a arrecadação planejada não seja viabilizada. Diante desse impasse, o Executivo acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter o cenário, o que pode agravar ainda mais a tensão entre os Poderes.
★ Superfederação como saída estratégica - A criação de uma superfederação aparece como alternativa para reorganizar as forças progressistas em torno do projeto petista e garantir maior solidez no Congresso. Trata-se de uma aliança formal, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que obriga os partidos a atuarem como um só por quatro anos, incluindo definição conjunta de candidaturas e posições legislativas.
Por um lado, esse tipo de união fortalece o desempenho nas eleições proporcionais, aumentando o número de cadeiras no Parlamento. Por outro, limita a autonomia de cada legenda, especialmente nas disputas majoritárias — como prefeituras e governos estaduais — onde os interesses locais costumam se sobrepor ao projeto nacional.
Segundo aliados, Lula tem reiterado seu desejo de consolidar essa federação ampliada, e o nome de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, cotado para assumir a presidência nacional do PT, é visto como peça-chave para tocar as articulações. Com trânsito entre setores da esquerda e perfil conciliador, Edinho poderá comandar as negociações e viabilizar o projeto que, se bem-sucedido, reposicionará o campo progressista diante do avanço da direita e da instabilidade legislativa.
Apesar da resistência de siglas como PSB e PDT, o Planalto aposta na construção de uma frente coesa, que vá além da federação já existente com PCdoB e PV. A tarefa, no entanto, é árdua: envolve cálculo político, disputas por espaço e desafios ideológicos. Em um Congresso que tem imposto derrotas ao governo mesmo com amplas concessões, Lula tenta reorganizar seu campo político para enfrentar o cenário de 2026 com mais solidez e menos surpresas.
Fonte: Brasil 247 com informações do Metrópoles
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