quarta-feira, 13 de agosto de 2025

General Heleno fez anotações sobre desafeto de Jair Renan Bolsonaro

Anotações manuscritas do general mencionam vigilância sobre Allan Lucena; caso foi usado como prova em investigação sobre esquema ilegal na Abin

             Jair Renan Bolsonaro (Foto: Reprodução/Youtube/Leo Dias)

Uma folha entre as 101 páginas da agenda do general da reserva Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), traz anotações sobre uma suposta espionagem contra Allan Lucena, ex-sócio de Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O conteúdo, obtido pela CNN Brasil, integra o material apreendido pela Polícia Federal (PF) no âmbito da investigação que apura o uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para fins políticos e pessoais durante o governo Bolsonaro.

O episódio relatado nas anotações ocorreu em março de 2021, quando Lucena, empresário e personal trainer, desconfiou que estava sendo vigiado no prédio onde morava, em Brasília. Ele acionou a Polícia Militar, que abordou um homem dentro de um veículo estacionado nas proximidades. O suspeito se identificou como agente da PF, e o caso foi formalizado em boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal.

Em investigação posterior, a própria PF confirmou que Lucena foi alvo da chamada “Abin paralela”, estrutura clandestina usada para espionagem ilegal. Segundo os investigadores, o monitoramento tinha como objetivo proteger Jair Renan de investigações que tramitavam à época. O relatório apontou que sistemas da Abin foram mobilizados para esse fim.

Na agenda de Augusto Heleno, uma anotação manuscrita menciona diretamente o caso: "Após notícias na imprensa de que o filho do presidente [Jair Renan] estava utilizando um veículo cedido por um estranho, apenas apuramos que o referido carro, na realidade, estava na posse de outra pessoa. Na verdade, o filho do presidente, cuja segurança é de responsabilidade do GSI, nunca utilizou aquele carro. Ele é filho do presidente. Portanto, é atribuição da Abin verificar o fato."

A PF identificou os agentes Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes, ambos cedidos à Abin, como os responsáveis diretos pelo monitoramento de Lucena. Além disso, foi apontado que Luiz Felipe Barros Felix, também agente da PF e vinculado diretamente ao então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, esteve no local do episódio, identificado como o homem abordado pela PM.

Em entrevista concedida à CNN em janeiro de 2024, Allan Lucena afirmou que já suspeitava estar sendo espionado. "O carro que eu ‘peguei’ na minha garagem era pessoal da Abin, me perseguindo."

Segundo o inquérito da PF, Luiz Felipe Barros Felix atuava sob ordens diretas de Ramagem e foi incluído no grupo de sete agentes investigados por uso indevido de recursos e estrutura da Abin. O caso também embasou a operação autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra Ramagem e outros integrantes da chamada "Abin paralela".

"Assim, relata-se que Luiz Felipe Barros Félix, agente de confiança de [Alexandre] Ramagem, que operava sob suas ordens, exerceu monitoramento, sem causa legítima, sobre Allan Lucena, personal trainer de Jair Renan Bolsonaro, com vistas a livrar este último de investigações já então em curso no inquérito policial", destaca um trecho do relatório da PF.

Fonte: Brasil 247 com informações da CNN Brasil 

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