Lula defendeu o Mais Médicos, pediu a cassação de Eduardo Bolsonaro e disse que enviará projeto para regular plataformas digitais
14.08.2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita e inauguração da nova planta de produção de medicamentos hemoderivados da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), no Parque fabril Hemobrás, Goiana-PE (Foto: Ricardo Stuckert/PR) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o programa Mais Médicos, rebateu ataques de Donald Trump — presidente dos Estados Unidos —, cobrou a cassação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e anunciou que o governo enviará ao Congresso um projeto para regular plataformas digitais. As declarações foram dadas nesta quinta-feira (14) na cerimônia de inauguração da fábrica de hemoderivados da Hemobrás, em Goiana (PE).
✱ Mais Médicos e a ausência de profissionais no interior
Ao defender o programa, Lula criticou o que chamou de visão elitista na saúde e descreveu a dificuldade de levar profissionais para regiões periféricas e cidades pequenas. Segundo ele, “Quando criamos o Mais Médicos, qual era a bronca dos médicos? É que tem uma parte elitista da saúde desse país que acha que não falta médico. Agora, os prefeitos sabem que faltam médicos. Para levar para a periferia mais violenta, é difícil ter médico que quer ir. Tem prefeito que não pode nem pagar salário de médico. Ninguém quer ficar confinado em uma cidadezinha do interior se o cara pode estar na capital, tomando uma cervejinha toda noite na beira da praia. Para que ele vai para o interior ficar ouvindo grilo cantar? Então é preciso que a gente tenha noção da parte do Brasil que não precisa e da parte que precisa, e é o governo que tem que tomar a decisão.”
Para Lula, garantir médicos, comida e educação compõe a base da soberania: “Um país soberano tem que cuidar de três coisas: da educação, garantir alimento para todo mundo - porque a segurança alimentar é primordial - e garantir a questão da saúde. Isso aqui chama-se soberania nacional.”
✱ Resposta a Trump e números do comércio com os EUA
Lula afirmou que Trump cometeu “insensatez” ao anunciar aumento de taxas contra o Brasil e contestou a justificativa de déficit comercial. “Somos parceiros dos americanos há 201 anos. (...) quando ele avisou, em uma carta que não mandou para mim - ele publicou no portal dele - ele disse que era preciso aumentar a taxa porque os EUA tinham déficit. (...) O comércio Brasil-EUA no ano passado foi de US$ 87 bilhões, dos quais eles venderam US$ 47 bilhões e nós US$ 40. Tiveram um superávit de US$ 7 bilhões.”
O presidente também mencionou gastos do Brasil com empresas americanas de dados e um superávit acumulado dos EUA em relação ao Brasil: “Se pegarem a questão do armazenamento de informaões, das empresas de dados, o Brasil gastou no ano passado US# 23 bilhões com empresas americanas. E se pegar nos últimos 15 anos, os americanos tiveram um superávit de US$ 410 bilhões em relação ao Brasil. Então não tem explicação.”
✱ Direitos humanos e julgamento de Bolsonaro
Em outro trecho, Lula rebateu a acusação de Trump de que o Brasil persegue o ex-presidente Jair Bolsonaro. “A segunda coisa que ele disse é que estamos persgeuindo o ex-presidente. Que aqui no Brasil não tem direitos humanos, que estamos perseguindo o ex-presidente. Tão bonzinho ele era… É importante ficar claro: não tem nenhuma acusação de nenhum opositor ao ex-presidente. Ele está sendo julgado pelas mazelas que fez, pela tentativa de golpe, pela preparação do assassinato do presidente Lula, do vice Alckmin, do Alexandre de Moraes, pela tentativa de colocar um carro-bomba no aeroporto. Invadiu a Polícia Federal no dia que eu fui diplomado, no dia 12 de dezembro… Ou seja, eles não podem esquecer. Ele está sendo julgado porque os comparsas dele delataram ele.”
Lula associou a gestão da pandemia ao que chamou de irresponsabilidade: “Gente, ele deveria ser julgado no tribunal internacional pela quantidade de mortes da Covid aqui, que ele tem responsabilidade. Pelo menos 300 mil mortes é da irresponsabilidade dele, de receitar remédio que não prestava para nada, que dizer que quem tomava vacina virava gay, jacaré. Se ele tivesse tomado vacina, ele não tinha virado a coisa ruim que virou. Se a mãe tivesse dado vacina nele, ele certamente teria um coração tão bom quanto o meu.”
✱ “Peçam a cassação” de Eduardo Bolsonaro
O presidente também criticou a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro no exterior: “Mandou o filho para os EUA. O filho, que é deputado federal. Vocês [deputados] têm que pedir a cassação dele, porque ele está traindo o país. Essa é a verdadeira traição da pátria. Ele foi para lá instigar os americanos contra nós. Não dá para a gente ficar quieto.”
✱ Regulação das plataformas digitais
Lula afirmou que o governo concluiu um texto para regular plataformas digitais e que o enviará ao Congresso: “E a última coisa que ele [Trump] falou é que não podemos regular as empresas, as plataformas digitais deles. Ele não vai aceitar que a gente regule. Nós estamos fazendo um projeto de regulação. Ontem terminamos o projeto e vamos mandar [para o Congresso]. Aqui no Brasil tem lei. A lei vale para nós e para empresas estrangeiras que estão aqui dentro.”
Ao defender a proposta, enfatizou proteção de crianças e combate ao ódio: “Não vamos permitir a loucura que se faz contra crianças e adolescentes, a pedofilia, a estimulação ao ódio, a quantidade de mentiras que é colocada, colocar em risco a democracia e o Estado de Direito. Por isso vamos regular. E queremos responsabilizar quem fica utilizando criança para praticar pedofilia. Isso, aqui, não vai ter.”
Lula concluiu com um recado sobre soberania: “E ele precisa saber que quem manda nesse país é o povo brasileiro. Ele tem que saber. Tem uns vira-latas que ficam falando: ‘nossa, como esse Lula fica falando bravo’. Não. Eu falo igualzinho para a Bolívia como eu falo para os americanos. Eu não sou daqueles que falam fino com os americanos e grosso com a Bolívia. Trato todo mundo igual”
Fonte: Brasil 247