terça-feira, 12 de agosto de 2025

Planalto vê recado político em reunião adiada de Haddad com secretário de Trump sobre tarifaço

Cancelamento de encontro virtual amplia tensão comercial entre Brasil e EUA e reforça impasse sobre sobretaxa de 50% às exportações brasileiras

           Fernando Haddad e Scott Bessent (Foto: Diogo Zacarias / MF)

O cancelamento da reunião virtual entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, marcado para esta quarta-feira (13), foi interpretado por integrantes do governo brasileiro como um sinal claro de falta de disposição da Casa Branca para avançar nas negociações sobre a sobretaxa aplicada a produtos brasileiros, relata o jornal O Globo.

Segundo auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a decisão confirma a postura do presidente norte-americano, Donald Trump, de condicionar qualquer diálogo à inclusão, na pauta, do processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de Estado. Essa possibilidade é rejeitada por Lula e sua equipe.

◈ Medidas de emergência no radar

O governo brasileiro pretende acelerar a divulgação de um plano de contingência para reduzir o impacto da sobretaxa de 50% sobre parte das exportações aos EUA. Entre as medidas previstas, estão linhas de crédito com juros mais baixos e compras públicas de alimentos, com o objetivo de evitar falências e preservar empregos.

Fontes da área econômica e diplomática afirmam que a reunião com Bessent era vista como a última oportunidade, neste momento, de abrir um canal de diálogo com Washington. O encontro aconteceria em meio à escalada das tensões comerciais, após a entrada em vigor da nova tarifa na semana passada.

◈ Impasse comercial e pressão política

A estratégia da Casa Branca, segundo interlocutores, tem sido politizar a negociação, o que, na avaliação do governo brasileiro, distancia a discussão de seu caráter comercial. O ministro da Fazenda pretendia pleitear a ampliação da lista de exceções, incluindo produtos que ficariam livres da sobretaxa.

Nos bastidores, empresários e representantes de importadoras americanas aconselham que o Brasil apresente propostas concretas de negociação, como ocorre com outros países, e lembram que encontros com Trump exigem deslocamento a Washington — prática adotada, por exemplo, pelo chanceler Mauro Vieira no início do mês, ao se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.

◈ Críticas e sanções contra Alexandre de Moraes

O clima diplomático se agravou após a Embaixada dos EUA no Brasil publicar, no último sábado, críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes, acusando-o de ter “usurpado o poder” da Corte. A manifestação ocorreu um dia depois de o encarregado de negócios americano, Gabriel Escobar, ter sido convocado ao Itamaraty pela quarta vez em razão de outra publicação considerada ofensiva.

Alexandre de Moraes teve o visto de entrada nos EUA suspenso, junto com outras autoridades brasileiras, e foi alvo de novas sanções há cerca de dez dias, com base na Lei Magnitsky — que prevê bloqueio de operações financeiras envolvendo empresas americanas. Trump acusa Moraes de perseguir Jair Bolsonaro.

◈ Posições do Brasil na negociação

O governo Lula admite incluir na pauta de negociação temas como o acesso dos EUA a minerais críticos e a aceleração na concessão de patentes para medicamentos, mas mantém posição firme contra levar questões judiciais ao centro das discussões comerciais. Para o Planalto, aceitar tal condição abriria um precedente perigoso e enfraqueceria a soberania nacional.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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