domingo, 27 de julho de 2025

Paulo Nogueira Batista: "Trump socorre Bolsonaro porque quer um Brasil vassalo"

Economista afirma que apoio de Trump a Bolsonaro visa afastar o Brasil dos BRICS e manter hegemonia do dólar

    (Foto: Brasil247 | REUTERS/Tom Brenner)

"Trump socorre Bolsonaro porque quer um Brasil vassalo", afirmou o economista Paulo Nogueira Batista Jr., em entrevista ao programa Brasil Agora, transmitido pela TV 247 no YouTube. Segundo ele, o apoio do presidente norte-americano ao ex-mandatário brasileiro está diretamente relacionado ao papel geopolítico do Brasil dentro do grupo BRICS, e ao temor dos Estados Unidos de perder o domínio financeiro global.

Durante a entrevista, Paulo Nogueira analisou a recente intensificação do confronto entre os Estados Unidos e o grupo BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, especialmente após a cúpula realizada no Rio de Janeiro, no segundo mandato do presidente Lula. Para ele, a reação de Donald Trump ao grupo está diretamente ligada à ameaça que representa ao papel do dólar como moeda hegemônica mundial.

“O Trump tem sido preciso ao se opor à criação de uma nova moeda que possa ameaçar o status do dólar como moeda de reserva”, declarou o economista. Ele também destacou que o próprio Lula, ao defender uma moeda alternativa para transações internacionais, “colocou bem o problema, fez isso publicamente”.

☆ Brasil sob pressão e o retorno de Bolsonaro

Ao comentar as sanções impostas por Trump a autoridades brasileiras e ameaças relacionadas à política externa do país, Nogueira foi categórico: “A melhor maneira de solapar a participação do Brasil nos BRICS é promover a volta de Jair Bolsonaro, porque Bolsonaro disse que, caso voltasse a ser presidente, ele sairia dos BRICS”.

Ele reforçou que os Estados Unidos enxergam no atual governo brasileiro um obstáculo à submissão geopolítica. “No Lula eles não encontram vassalo, encontram alguém que tem pretensões de independência”, afirmou. Por isso, na avaliação do economista, Trump tenta favorecer Bolsonaro com vistas a realinhar o Brasil aos interesses de Washington.

☆ Críticas à grande imprensa brasileira

Nogueira também criticou o editorial recente do Estado de S. Paulo, que sugeriu que o Brasil abandonasse os BRICS. “É uma peça de vassalagem, não tem dúvida. Repete o que Bolsonaro já havia dito antes, pedindo a saída do Brasil do grupo”, disse. Para ele, há um equívoco na percepção de que os BRICS seriam dominados pela China ou alinhados a Rússia: “Os BRICS não são e nunca foram uma aliança política, um bloco. É um mecanismo de cooperação, como o G7 ou o G20”.

Ele lembrou que, no Novo Banco de Desenvolvimento, sediado em Xangai, os países fundadores — incluindo o Brasil — têm igual poder de voto, com 20% cada. “Ali é paritário. A China tem influência, claro, mas não controla o banco nem a formação política dos BRICS”, explicou.

☆ Risco de ruptura e o futuro geopolítico

Sobre a possibilidade de o Brasil deixar os BRICS em caso de novo governo de extrema direita, Nogueira alertou: “Se for o Bolsonaro, um filho dele ou a Michelle, o risco seria muito alto”. Já sobre Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo e possível presidenciável, o economista considerou que “parece um pouco menos irracional”, embora também represente um risco.

Para Nogueira, abandonar os BRICS seria uma atitude “irracional”, ainda mais em um cenário internacional marcado por maior confrontação entre Estados Unidos e os países do Sul Global.

☆ Diversificação das reservas e soberania monetária

O economista também chamou atenção para a concentração das reservas cambiais brasileiras em dólares e títulos do Tesouro dos EUA. “O Brasil está excessivamente concentrado em dólares. Deveria ter comprado ouro, outros metais preciosos, armazenados aqui”, defendeu. Ele citou o caso da Venezuela, que teve reservas em ouro confiscadas em Londres, como exemplo dos riscos de depender do sistema financeiro ocidental.

Segundo ele, diversificar as reservas é uma necessidade cada vez mais urgente diante das posturas de Trump. “Não estou dizendo que é provável que os Estados Unidos façam alguma violência com os ativos brasileiros. Mas é possível. E como a mudança da composição das reservas é um processo lento, já deveria ter começado.” 

Assista:

 

Fonte: DCM

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