Ex-mandatário agora afirma que não tem contato com autoridades dos EUA e que Eduardo Bolsonaro "não pode falar em nome do governo brasileiro"
Trump e Bolsonaro na Flórida, EUA - 07/03/2020 (Foto: REUTERS/Tom Brenner) Jair Bolsonaro (PL) negou, nesta segunda-feira (21), qualquer envolvimento com o tarifaço de 50% contra produtos brasileiros anunciado pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além de rechaçar a responsabilidade de seu grupo político e a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, no episódio. "Isso é lá do governo Trump. Não tem nada a ver com a gente. Querem colar na gente os 50%. Mentira", disse o ex-mandatário em entrevista à jornalista Andréia Sadi, do G1. "Não tenho contato com autoridades americanas", afirmou.
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada por Trump com menção direta a Jair Bolsonaro. O presidente estadunidense qualificou como "vergonha internacional" os processos que o ex-mandatário responde no Supremo Tribunal Federal, incluindo um por tentativa de golpe de Estado. Mesmo assim, o ex-presidente manteve elogios ao líder republicano, a quem disse admirar. Em uma postagem anterior à entrevista, Bolsonaro chegou a afirmar que "com anistia, haverá paz para a economia".
"Eu não vou falar o que eu acho para o Trump. Eu tenho profunda gratidão e respeito por ele (...) Tivemos um excelente relacionamento. Ele queria taxar o aço e o alumínio em 2019. Eu conversei com ele e ele não taxou. Esse governo Lula até hoje não buscou contato com o Trump", disse Bolsonaro.
Na entrevista, Bolsonaro também rebateu declarações feitas pelo próprio filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que dias antes havia se apresentado como responsável pelas negociações com os Estados Unidos visando à imposição de sanções contra autoridades brasileiras.
"Ele não pode falar em nome do governo do Brasil. O Eduardo não pode falar em nome do governo brasileiro", afirmou o ex-mandatário, acrescentando ter pedido ao filho que "segurasse" as declarações e "medisse as palavras". Mesmo assim, defendeu a atuação do parlamentar como sendo a de "um cara responsável". Indagado se Eduardo deveria retornar ao Brasil – sua licença na Câmara terminou no domingo (20) –, o ex-mandatário desconversou. "Eu não acho nada. Ele é maior de idade, pessoa responsável, tem vergonha na cara, está fazendo um trabalho pela nossa liberdade."
Apesar de tentar se desvincular da medida, Bolsonaro reconheceu que a tarifa anunciada por Trump causará prejuízos significativos à economia brasileira. "Qualquer pessoa sabe que isso tem um impacto enorme para a economia brasileira", afirmou, antes de sugerir uma solução direta: "Tem que ir lá conversar com o Trump, ouvir as condições dele."
Pesquisa divulgada pela Quaest no dia 15 mostra que 72% dos brasileiros são contra o tarifaço e 79% acreditam que a medida terá impactos negativos em suas vidas. Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, o episódio "jogou o eleitor de centro para o colo de Lula", que agora aparece à frente de Bolsonaro em um eventual segundo turno em 2026 – antes, ambos estavam tecnicamente empatados.
Na mesma entrevista, Bolsonaro comentou a apreensão de US$ 14 mil feita pela Polícia Federal (PF) em sua residência na última sexta-feira (18), minimizando a importância do montante. "Você acha que 14 mil dólares é muita coisa? Eu tenho um bom recurso no banco. No momento, tive lá R$ 17 milhões lá atrás, do Pix (...) Então, perto do que eu tenho no banco, em dinheiro que está no banco, não é quase nada esses US$ 14 mil", declarou.
Ele também comentou o conteúdo de um pen drive apreendido pela PF em um banheiro da residência que, segundo a perícia realizada pela PF, não continha elementos relevantes para a investigação. "Ouvi dizer que tinha música gospel e foto de família."
Ao longo da entrevista, Bolsonaro voltou a defender anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e criticou possíveis interferências do Supremo Tribunal Federal no tema. "Olha o Congresso: pela Constituição, anistia é algo privativo do Parlamento. Agora, quando começa a discutir anistia, alguém do Supremo fala 'se aprovar, nós vamos declarar inconstitucional'. Acabou a conversa."
Por fim, o ex-mandatário afirmou que pretende participar de reuniões da bancada do PL no Congresso. As medidas restritivas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, não o impedem de frequentar o Parlamento.
Fonte: Brasil 247 com informaÇÕES DO g1