A indústria deve redirecionar a produção das unidades afetadas para o mercado interno e priorizar as exportações dos estados não impactados
A confirmação do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil levou à suspensão das importações de carne de frango por parte da China, da União Europeia e da Argentina. O caso foi registrado em uma granja de galinhas matrizes no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, e acendeu o alerta nas autoridades sanitárias e no mercado internacional.
Apesar da reação imediata dos parceiros comerciais, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reforçou que não há risco de transmissão da doença para seres humanos e que todas as medidas sanitárias necessárias foram adotadas para conter a propagação do vírus.
◉ Exportações suspensas e reações globais - A China optou por interromper as compras de carne de frango por 60 dias. A Argentina anunciou suspensão até que o Brasil seja novamente considerado livre da doença. A União Europeia seguiu a mesma linha. Outros países, como Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, tendem a impor restrições apenas aos produtos originados no Rio Grande do Sul.
Em entrevista à TV Centro América, o ministro Carlos Fávaro explicou que o foco está concentrado no município gaúcho e que as exportações do estado foram suspensas preventivamente. “O processo deve durar entre 28 e 60 dias”, afirmou.
◉ Analistas veem impacto limitado nas exportações - O Brasil é líder mundial nas exportações de carne de frango, com 5,29 milhões de toneladas exportadas em 2024. Mesmo assim, José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro, ouvido pelo jornal O Globo, avalia que o impacto nas exportações será restrito. Segundo ele, apenas cerca de 10% da produção afetada poderá ser redirecionada ao mercado interno, o que não seria suficiente para derrubar os preços.
Para André Braz, coordenador de índices de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), os efeitos no mercado interno dependerão da evolução da doença. “Vide o que ocorreu nos EUA com o preço do ovo. Disparou com o avanço da gripe aviária”, alertou.
◉ Preço dos alimentos pode subir - A avaliação é de que, se o vírus se espalhar e for necessário o abate de um grande número de aves, a oferta interna de carne e ovos poderá cair, o que provocaria uma elevação nos preços.
Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), lembra que o vírus está presente globalmente desde 2006. O Brasil, segundo ele, vinha escapando por estar fora das rotas principais de contaminação, apesar de fazer parte das rotas de aves migratórias. “Era inevitável”, reforçou Hausknecht.
◉ Regionalização como solução - Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), defendeu a aplicação do princípio da regionalização, aceito pela Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa), para evitar prejuízos nacionais. Ele citou como exemplo os Estados Unidos, que mesmo com surtos mantiveram as exportações. “As pessoas comeram, não tiveram nenhum problema”, disse.
Santin também afirmou que o Brasil já busca novos mercados, como Vietnã, Hong Kong e países africanos, para absorver a produção excedente. Contudo, ele pondera que grande parte do que se exporta à China, como pés de frango, não tem demanda significativa no mercado interno.
◉ Situação sob controle, dizem especialistas - Para Hausknecht, enquanto os estados de Santa Catarina e Paraná — grandes produtores — não forem afetados, a situação permanecerá sob controle. Ele destaca que a maior produção de ovos está em São Paulo e Minas Gerais, regiões pouco propensas a receber aves migratórias.
Ele conclui que a indústria tem flexibilidade para se adaptar, redirecionando a produção das unidades afetadas ao mercado interno e priorizando as exportações de estados não impactados.
Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo
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