Agência cassou definitivamente o certificado da companhia, que operou aeronaves em condições não aeronavegáveis por sete meses
Aeronave da Voepass após queda em Vinhedo (Foto: SSPSP/Divulgação) A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que a Voepass Linhas Aéreas operou 2.687 voos com aviões em condições consideradas não aeronavegáveis entre agosto de 2024 e março deste ano. A informação veio à tona durante a reunião que determinou, de forma definitiva, a cassação do Certificado de Operador Aéreo (COA) da companhia, impedindo-a de operar voos comerciais no país. As informações são do g1.
A decisão ocorre após o trágico acidente de 9 de agosto de 2024, quando um avião da Voepass caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, deixando 62 mortos — 58 passageiros e quatro tripulantes — no maior desastre aéreo do Brasil em 17 anos. Desde então, a empresa vinha sendo alvo de fiscalização rigorosa da Anac, que identificou uma série de falhas graves no cumprimento de protocolos de manutenção obrigatórios.
◆ Irregularidades recorrentes após o acidente
De acordo com o diretor da Anac e relator do processo, Luiz Ricardo Nascimento, as inspeções realizadas durante a chamada “operação assistida” revelaram o descumprimento sistemático de normas de segurança por parte da companhia.
Foram identificadas 20 inspeções obrigatórias em sete aeronaves que deixaram de ser realizadas no período entre 15 de agosto de 2024 e 11 de março de 2025. Mesmo assim, as aeronaves continuaram voando, o que, segundo o relator, representa um risco inaceitável à segurança dos passageiros.
“Tal comportamento, de continuidade de conduta infracional, não era de forma alguma esperado para um operador regular após a ocorrência de grave acidente com uma de suas aeronaves. A tal fato espera-se suceder o aumento do nível de alerta da empresa como um todo, maior diligência na execução dos procedimentos de manutenção e reforço em seus sistemas que visam à proteção dos voos”, destacou Nascimento em seu voto.
◆ Empresa tentou reverter decisão, mas perdeu recurso
A cassação do COA da Voepass já havia sido determinada em primeira instância, mas a empresa recorreu. Durante a reunião da diretoria da Anac, o advogado da companhia, Gustavo de Albuquerque, argumentou que a decisão equivaleria a uma “pena perpétua” para a empresa. A diretoria da agência, no entanto, manteve a decisão, alegando grave comprometimento dos processos organizacionais e de segurança da companhia aérea.
O Ministério dos Portos e Aeroportos apoiou a medida e, em nota, afirmou que “a decisão demonstra o compromisso da Anac com a preservação da segurança do transporte aéreo no Brasil”.
◆ Crise financeira e disputa judicial com a Latam
A Voepass, com sede em Ribeirão Preto (SP), já estava com as operações suspensas desde março deste ano, quando a Anac determinou a interrupção dos voos após constatar irregularidades em inspeções de segurança. Antes disso, a empresa operava em 16 destinos no Brasil, com destaque para o Aeroporto Dr. Leite Lopes, em Ribeirão Preto, onde realizava cerca de 146 voos mensais, transportando 15 mil passageiros.
A crise da empresa se agravou após o acidente e com disputas judiciais envolvendo a Latam, parceira comercial da Voepass por meio de um contrato de codeshare, no qual a Latam comercializava passagens para voos operados pela Voepass. A empresa aérea cobra R$ 34,7 milhões da Latam por atrasos em repasses contratuais. O caso está em processo de arbitragem.
◆ Slots em Guarulhos e Congonhas seguem em discussão
Apesar da cassação do COA, a Anac decidiu em março manter, temporariamente, os slots — espaços de pouso e decolagem — da Voepass nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo. Segundo a agência, os slots só serão definitivamente redistribuídos caso a empresa não cumpra critérios de regularidade estabelecidos pelas normas do setor.
◆ Relembre o acidente em Vinhedo
A queda do avião da Voepass em Vinhedo foi o maior acidente aéreo do Brasil desde 2007. A tragédia mobilizou autoridades e gerou forte comoção nacional. Posteriormente, investigações revelaram falhas na manutenção da aeronave, o que contribuiu para o agravamento da crise da companhia.
Relatos de funcionários, incluindo mecânicos, apontaram problemas recorrentes nos protocolos de manutenção da Voepass, situação que a fiscalização da Anac confirmou meses depois.
Com a cassação definitiva do COA, a Voepass fica impedida de retomar suas operações aéreas, a menos que inicie um novo processo de certificação, o que, segundo especialistas, pode levar anos.
Fonte: Brasil 247 com informações do G1