Segundo investigações, Alan Oleskovicz reuniu subordinados para discutir ações com potencial de impacto político para beneficiar campanha de Bolsonaro
(Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
Trocas de mensagens entre servidores e um depoimento colhido pela Polícia Federal (PF) indicam que Alan Oleskovicz, coordenador-geral de Operações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em 2022, sugeriu uma operação que poderia “virar a eleição” a favor do então presidente Jair Bolsonaro (PL). A denúncia faz parte do inquérito da chamada “Abin paralela” e consta no relatório da PF, tornado público pelo Supremo Tribunal Federal (STF), segundo reportagem da Folha de S.Paulo.
As mensagens obtidas pelos investigadores mostram que, em 3 de agosto de 2022 — dois meses antes do primeiro turno das eleições —, Oleskovicz reuniu três servidores da área de contrainteligência para discutir ações com potencial de impacto político. Um dos agentes relatou o encontro a um colega por meio de aplicativo de mensagens: “[Oleskovicz] chamou 3 da equipe de CI [contrainteligência] do Doint [Departamento de Operações de Inteligência] (do último concurso) e ficou elucubrando uma operação 'que poderia virar a eleição'”.
Na ocasião, Bolsonaro aparecia atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas. A última sondagem do Datafolha antes da reunião, divulgada em 28 de julho de 2022, mostrava Lula com 47% das intenções de voto, contra 29% do então presidente.
Ainda segundo o agente, os três servidores chamados por Oleskovicz procuraram-no após a reunião para relatar o episódio, considerado grave. Em resposta à denúncia do colega, o interlocutor afirmou: “Cara, é isso. Não é à toa que [ele] é coordenador-geral. Não tenho nada contra bolsonaristas, mas ele talvez seja tipo aqueles da seita. É evangélico, conservador... Aí afunda a agência inteira com ele”.
As suspeitas ganharam corpo com um depoimento prestado por outro servidor à PF em dezembro de 2023. O agente afirmou ter ouvido o relato do caso e disse que a equipe de análise ficou “horrorizada” com a proposta. De acordo com o depoimento, Oleskovicz teria defendido, em reunião com outros departamentos, que “o trabalho de operações seria importante para ajudar na campanha do governo”.
Alan Oleskovicz foi indiciado por peculato e prevaricação. Também foram indiciados o ex-diretor da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o sucessor de Ramagem no comando da agência, Victor Carneiro. Procurado pela Folha, Oleskovicz não respondeu até a publicação da matéria.
Ligado politicamente ao ex-diretor Ramagem, Oleskovicz foi diretor substituto do Departamento de Operações e detinha posição estratégica na estrutura da agência. Ramagem, por sua vez, tem criticado a investigação da PF e atribui as conclusões a uma “rixa política”.
O episódio reacende suspeitas em torno de uma declaração do general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), feita em julho de 2022. Em reunião ministerial, Heleno mencionou a ideia de “montar um esquema para acompanhar o que os dois lados” estavam fazendo na campanha, sugerindo uma possível infiltração de agentes da Abin. Bolsonaro, ao ouvir a proposta, interrompeu o general e sugeriu tratar o tema em conversa reservada.
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal no último dia 10, Heleno negou a viabilidade da proposta. Disse que “não é tecnicamente possível fazer a infiltração de agentes a curto prazo” e que sua intenção era apenas evitar “ações violentas contra os candidatos”.
Após a saída de Ramagem da Abin, em abril de 2022, para disputar as eleições, a chefia da agência foi assumida por Victor Carneiro, então superintendente da Abin no Rio de Janeiro e também ligado ao grupo político de Bolsonaro.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo