Alysson Mascaro analisa julgamento de Bolsonaro e afirma que a luta política brasileira é marcada pela escolha entre soberania e entreguismo
Em entrevista concedida à TV 247, o professor e jurista Alysson Leandro Mascaro avaliou que o Brasil atravessa um momento decisivo. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo ele, deve ser entendido como parte de uma longa disputa histórica que opõe dois campos: o da emancipação nacional e o do entreguismo. “Ou se é do Tiradentes, ou do Joaquim Silvério dos Reis”, resumiu.
Mascaro explicou que a família Bolsonaro se vinculou diretamente ao imperialismo estadunidense, sobretudo ao círculo de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos. Para ele, a extrema direita brasileira tornou-se não apenas dependente, mas agente ativo desse processo. “Existe uma coordenação imediata a partir dos Estados Unidos, especialmente do Partido Republicano, que é a face mais explícita do imperialismo contemporâneo. A ligação da família Bolsonaro com Trump revela o quanto há uma política entreguista no Brasil.”
O jurista observou que essa subordinação não se limita a lideranças políticas, mas envolve setores da elite econômica, parte dos meios de comunicação e grupos empresariais que se moldam conforme os interesses externos. Em sua análise, a burguesia brasileira atua como sócia menor de potências estrangeiras, alternando o apoio entre republicanos e democratas. “Os democratas não são melhores que os republicanos, são tão imperialistas quanto. Apenas adotam formas mais polidas, enquanto os republicanos beiram o fascismo.”
Ao tratar da substituição de lideranças, Mascaro apontou que o esvaziamento político de Bolsonaro abre espaço para novas figuras, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, visto como continuidade do bolsonarismo sob outro formato. “Sempre a burguesia brasileira joga nas duas margens. Se não pode andar pelo caminho fascista, anda pelo neoliberal, que também é fascista. A direita nunca tem candidato próprio; tem qualquer candidato contra a esquerda”, afirmou.
Em sua leitura, essa oscilação é possível porque setores estratégicos do país — como o agronegócio e o mercado financeiro — já internalizaram a lógica da dependência. O campo agrícola, culturalmente vinculado aos Estados Unidos, vive o paradoxo de depender economicamente da China, principal compradora dos produtos brasileiros. Já a “Faria Lima” e o sistema financeiro, segundo Mascaro, transitam com facilidade entre discursos de preservação ambiental e práticas de exploração. “Tanto faz se o vinho é sangue de boi dos republicanos ou cabernet fino dos democratas. Nos dois casos, o dinheiro vem do sangue do povo.”
Mascaro também fez um paralelo histórico para situar o presente. Em sua visão, cada sociedade capitalista repete a divisão entre os que lutam pela soberania e os que se submetem ao poder estrangeiro. “Na Argentina, há o peronismo e o antiperonismo; no Chile, Salvador Allende e Pinochet; em Angola, o MPLA e a UNITA. No Brasil, é Tiradentes contra Joaquim Silvério dos Reis. Essa é a escolha de fundo.”
Para Mascaro, compreender o momento atual exige não apenas olhar os fatos imediatos, mas enxergar a continuidade histórica da luta pela independência. “Sempre haverá Tiradentes e sempre haverá Silvérios. A questão é de que lado estamos nessa disputa que define o destino do Brasil.” Assista:
Fonte: Brasil 247
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