Para ex-diretores do Banco Central, reversão da medida exigiria bilhões e ignoraria indícios graves de fraude no banco controlado por Daniel Vorcaro
A liquidação do banco Master, decretada em 18 de novembro pelo Banco Central, é considerada um processo sem volta por ex-dirigentes da autoridade monetária ouvidos por Mariana Barbosa, do UOL. Desde o início da intervenção, a instituição financeira já promoveu demissões, devolveu escritórios e perdeu completamente a capacidade de operar no mercado, segundo avaliação de especialistas que acompanharam de perto o caso.
Na avaliação desses ex-diretores, a tentativa de reverter a liquidação no Supremo Tribunal Federal expõe o Banco Central a uma pressão inédita e compromete a segurança jurídica do sistema financeiro.
Luiz Fernando Figueiredo, que integrou a diretoria do Banco Central entre 1999 e 2003, afirma que uma eventual reversão da liquidação seria inviável do ponto de vista financeiro. “Se o Supremo reverter a liquidação na canetada, de onde vão tirar R$ 40 bilhões para colocar dentro do banco?”, questiona. Para ele, o Master já apresentava uma situação patrimonial insustentável antes mesmo da decisão formal do BC.
Segundo Figueiredo, a instituição só não havia colapsado anteriormente porque contava com apoio do Fundo Garantidor de Crédito. “O Master só não estava insolvente pois o Fundo Garantidor de Crédito ainda estava emprestando. Mas o patrimônio líquido estava negativo, os ativos não valiam nada e foi encontrada uma fraude gravíssima de R$ 12,2 bilhões nas carteiras de crédito, que nunca se viu no sistema financeiro. Todos os elementos para a liquidação estavam lá”, declarou.
Outro ponto levantado pelos ex-dirigentes é que a liquidação de instituições financeiras é uma atribuição exclusiva do Banco Central, não cabendo ao Judiciário rever decisões dessa natureza. Eles destacam que, até hoje, nenhuma liquidação bancária havia sido questionada nos moldes do que ocorre agora, especialmente envolvendo o STF.
O caso ganhou ainda mais repercussão após revelações sobre possíveis conflitos de interesse. Reportagem de Malu Gaspar, do jornal O Globo, informou que a esposa do ministro Alexandre de Moraes teria sido contratada para atuar na defesa do banco por R$ 3,6 milhões mensais durante três anos. O jornal também relatou que Moraes teria tratado do tema com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, informação negada pelo ministro.
Além disso, o ministro Dias Toffoli é apontado como amigo do advogado Augusto de Arruda Botelho, responsável pela defesa do diretor financeiro do Master, Luiz Bull. Ambos teriam viajado juntos para a final da Libertadores em um jatinho, e, no dia seguinte, Toffoli determinou sigilo sobre o processo no Supremo.
Gustavo Loyola, que presidiu o Banco Central nos anos 1990 e foi consultor do Master entre 2023 e 2025, comparou o episódio a pressões sofridas durante o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer). “Era também bullying regulatório, mas de outro tipo. A crítica era que o BC estava salvando banqueiros”, relembrou.
Para Loyola, a decisão de Toffoli de convocar uma acareação fragiliza a atuação do Banco Central e coloca a instituição e o diretor responsável pelo caso, Aquino, em uma “situação difícil”. Ele afirma ainda que o BC sofreu uma pressão “inédita” de outros bancos favoráveis à liquidação e defende que o processo siga seu curso normal, tanto no âmbito administrativo quanto nas investigações criminais em andamento.
Fonte: Brasil 247 com informações do UOL

