“Tentar colocar um assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável”, afirma Lula, lembrando o papel dos EUA no Brasil: "já deram golpe aqui"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a elevar o tom neste domingo (3) contra a tentativa de interferência externa na economia brasileira promovida pelo clã Bolsonaro junto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Durante discurso no evento nacional do PT, Lula condenou o que chamou de 'tarifaço político' contra o Brasil e afirmou que o país já não depende como antes da potência norte-americana para crescer e se posicionar no mundo.
“Tentar colocar um assunto político para nos taxar economicamente é inaceitável”, afirmou Lula, em crítica direta à articulação de setores bolsonaristas com Trump. “Acho que o presidente da República pode taxar o que quiser. Mas ele [Trump] extrapolou os limites. Ele quer acabar com o multilateralismo. Ele quer a volta da negociação país por país”, disse.
Lula acusou Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de atuar contra os interesses nacionais ao renunciar ao mandato parlamentar para, segundo ele, “lamber as botas” do presidente dos EUA em troca de anistia para Jair Bolsonaro (PL). “Você veja que tem um cara que fazia campanha abraçado na bandeira nacional e agora está indo nos Estados Unidos se abraçar à bandeira americana para pedir para o Trump fazer taxação nos produtos brasileiros para dar anistia para o pai dele. É a excrescência da excrescência política”, disparou. “Eles estão traindo o povo brasileiro".
Ao abordar o atual papel do Brasil na geopolítica mundial, Lula destacou que o país diversificou suas relações comerciais e já não é tão dependente de Washington como no passado. “O Brasil hoje não é tão dependente quanto já foi dos Estados Unidos. O Brasil hoje tem uma relação comercial muito ampla no mundo inteiro. A gente está muito mais tranquilo do ponto de vista econômico”, declarou.
Apesar das críticas, o presidente reforçou a importância da diplomacia e disse estar aberto ao diálogo com os EUA, desde que em condições de igualdade. “Obviamente eu não vou deixar de compreender a importância da relação diplomática com os Estados Unidos. Não vou esquecer que eles também já deram um golpe aqui. Ajudaram a dar um golpe. Mas o que eu quero saber é daqui para frente".
Lula defendeu uma política internacional soberana e o fortalecimento do multilateralismo. “Não vou abrir mão de achar que a gente precisa procurar construir uma moeda alternativa para que a gente possa negociar com outros países. Eu não preciso ficar subordinado ao dólar”, afirmou, lembrando que iniciativas semelhantes já haviam sido feitas em 2004 com a Argentina.
O presidente também fez questão de se diferenciar do radicalismo bolsonarista, dizendo que o Brasil não deseja confrontos. “Eu vou continuar daquele mesmo jeito: eu não estou disposto a brigar, nem com o Uruguai, nem com o Paraguai, nem com a Venezuela, nem com a Bolívia, nem com a Nicarágua e com ninguém. Esse país é um país de paz”, frisou. “Agora, não pensem que temos medo. Não pensem".
Por fim, Lula criticou o uso de símbolos nacionais por setores da extrema direita e defendeu sua retomada pela população brasileira. “Vamos resgatar a bandeira nacional para o povo brasileiro. Vamos resgatar a camiseta da seleção brasileira para o povo brasileiro. Não é possível que fascistas, nazistas fiquem desfilando com as cores nacionais, contando mentiras e traindo a pátria".
Fonte: Brasil 247