
Nos últimos meses, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) virou alvo de uma tempestade política que vai muito além dos gramados. A entidade esportiva está no meio de uma cruzada liderada por parlamentares de direita e extrema-direita, que questionam desde contratos institucionais até as cores do uniforme da Seleção Brasileira.
O estopim dos ataques foi a revelação de um contrato entre a CBF e o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que controla a CBF Academy e tem entre seus sócios o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos magistrados mais atacados por bolsonaristas.
A informação, publicada pela revista Piauí, serviu de combustível para uma série de ações políticas contra a entidade. Na ocasião, a matéria denunciou como Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, contou com apoio de Mendes para se perpetuar no principal cargo do futebol brasileiro.
“Esse, talvez, seja um dos casos mais vergonhosos de conflito explícito de interesse, que exigiria a óbvia suspeição”, afirmou o senador Eduardo Girão (Novo-CE), um dos principais articuladores de uma possível CPI mista para investigar a entidade.
A ofensiva contra a Confederação se materializou em diversas frentes:
– Projeto de CPI mista apresentado por Eduardo Girão e pelo deputado Coronel Meira (PL-CE);
– Pedido de audiência pública do deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) para apurar possível fraude no acordo judicial que manteve Ednaldo na presidência;
– Projetos de lei dos deputados Zé Trovão (PL-SC) e Coronel Meira (PL-PE) para proibir seleções de usar cores diferentes das bandeiras nacionais;
– Ação do vereador Marcos Dias (Podemos-RJ) no MPT para investigar assédio na CBF.
A polêmica sobre a possível nova camisa vermelha da seleção brasileira também virou munição política. O senador Carlos Portinho (PL-RJ) chegou a relacionar a escolha cromática ao fato do PCdoB ter sido autor da ação no STF que reconduziu Ednaldo ao cargo: “Tomaram tudo e até a CBF? Pagando dívida com o PCdoB?”.
Em nota, a CBF afirmou que as imagens que viralizaram nas redes sociais sobre a camisa não são oficiais e reafirmou que os padrões tradicionais serão mantidos. A entidade nega qualquer conotação política na escolha de uniformes e ressalta que nunca se manifestou contra o uso da camisa amarela em protestos de direita.
As investigações sobre assédio na entidade miram Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo, afastado após ser denunciado por uma funcionária em 2021.
Internamente, a CBF avalia que está sendo arrastada para um embate político maior, que tem como alvo principal o STF. A entidade discute estratégias jurídicas para se defender das investidas, mas reconhece dificuldades para se blindar completamente, especialmente nas ações judiciais no Rio de Janeiro, onde o atual presidente já foi afastado uma vez.
O pedido de audiência pública na Câmara coloca em dúvida as condições cognitivas do coronel Nunes, ex-presidente interino da CBF, para assinar o acordo que encerrou questionamentos ao mandato de Ednaldo no STF. Um laudo médico da própria CBF atestava que Nunes tinha “quadros de tontura e ataxia com piora recente do déficit cognitivo”.
Fonte: DCM