O bolsonarismo, que por quase uma década dominou as redes sociais com narrativas virais e hegemonia no discurso digital, enfrenta queda visível no engajamento às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). A desmobilização nas plataformas, somada às decisões recentes do ministro Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Silas Malafaia, expõe um movimento sem a mesma capacidade de reação que marcou a ascensão política da extrema-direita.
Essa mudança de cenário ocorre a apenas uma semana do início do processo considerado o mais importante da história do grupo. A partir de 2 de setembro, Bolsonaro e sete aliados serão julgados por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, em um caso que pode resultar em condenações com prisão. Mesmo diante da gravidade, os principais articuladores digitais do ex-presidente ainda não conseguiram reorganizar sua base.
À coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, um aliado próximo ao ex-presidente resumiu o enfraquecimento: “O Bolsonaro perdeu as redes e perdeu a mídia. Falta também uma comunicação profissional estar ao lado da defesa técnica dele”. O réu por tentativa de golpe de Estado sempre deixou seus perfis serem administrados pelo filho Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro.

O diagnóstico é reforçado por Manoel Fernandes, presidente da consultoria Bites, que avalia: “O bolsonarismo sempre atuou num campo monotemático. Eles elegem um tema e vão para cima. Sem a presença digital do Bolsonaro, eles ficam em busca de um novo líder para dar uma ordem”.
Em meio ao cenário de desarticulação, o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, declarou que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, seria a “única saída” para evitar a condenação de Bolsonaro. Em evento do grupo Esfera Brasil, em São Paulo, Valdemar atacou o STF e Moraes, classificando o julgamento como “uma guerra”.
“Isso é uma guerra e eu não acho que o Trump vai perder essa guerra, é minha opinião. O Trump é a única saída que nós temos, não temos outra. Porque quando o poder judiciário se comporta dessa maneira é a pior coisa que existe para todo o país. Por quê? Porque você não tem para quem recorrer”, disse.
Valdemar ainda recordou que, em julho, Trump criticou publicamente o processo contra Bolsonaro ao anunciar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, classificando o caso como “caça às bruxas”. A ligação com o presidente estadunidense é vista pelo PL como último recurso para frear o desgaste político e jurídico do ex-presidente.
Enquanto isso, uma pesquisa Genial/Quaest mostrou que 55% dos brasileiros consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro, contra 39% que a rejeitam e 6% que não opinaram.
O levantamento apontou também que 52% acreditam que ele participou do plano golpista após as eleições, índice que vem crescendo desde 2023. Entre os eleitores “nem-nem”, que não se identificam com esquerda ou direita, 58% já enxergam envolvimento direto de Bolsonaro na trama, e 60% apoiam a prisão domiciliar.
O julgamento terá cinco sessões reservadas na Primeira Turma do STF entre os dias 2 e 12 de setembro. Moraes deve dedicar cerca de três horas ao voto, dividindo-o entre a análise das teses de defesa e a dosimetria das penas. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, admitiu que o processo traz “algum grau de tensão para o país”.
Fonte: DCM
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