quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Advogado de Milei apagou mensagens com o presidente e a irmã antes de ter celular apreendido por denúncias de corrupção


Justiça argentina aponta eliminação seletiva de diálogos de Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis, em meio a denúncias de corrupção

Presidente da Argentina, Javier Milei - 13/05/2025 (Foto: Agustin Marcarian/Reuters/Arquivo)

A Justiça argentina descobriu que o celular de Diego Spagnuolo, advogado pessoal do presidente Javier Milei e ex-diretor da Agência Nacional de Deficiência (Andis), teve mensagens apagadas manualmente antes da apreensão. A informação foi revelada pelo jornal O Globo nesta quarta-feira (27), que destaca a suspeita de tentativa de obstrução de provas em meio a um escândalo de corrupção que envolve também a secretária-geral da Presidência, Karina Milei, irmã do presidente.

Segundo os investigadores citados pela reportagem, os registros de conversas entre Spagnuolo e os irmãos Milei foram excluídos na semana passada, justamente quando vieram à tona áudios que sugerem a existência de um esquema milionário de propinas na compra de medicamentos pela Andis. A revelação aprofunda a crise política no entorno imediato do governo, a menos de dois meses das eleições legislativas marcadas para 26 de outubro.

◇ Mensagens apagadas e suspeita de obstrução

A análise do aparelho indica que não se tratou de um simples “reset”, mas de uma eliminação seletiva de conteúdos, preservando parte da atividade do dispositivo. Investigadores avaliam que Spagnuolo buscou apagar apenas diálogos mais comprometores, sobretudo com Javier e Karina Milei, no auge da repercussão pública do caso.

O advogado, de 46 anos, comandou a Andis até agosto, quando foi afastado preventivamente após a divulgação dos áudios. As gravações, obtidas de forma clandestina e ainda sem autenticação definitiva, apontam que empresas fornecedoras da agência, como a Suizo Argentina, precisariam pagar até 8% do valor dos contratos em propina. Esses recursos, de acordo com as suspeitas, seriam repassados a funcionários do governo e possivelmente a Karina Milei.

◇ Contratos milionários e ascensão de Spagnuolo

De acordo com a denúncia, entre 2024 e 2025 os contratos da Suizo Argentina com o Estado saltaram de US$ 3 milhões para US$ 80 milhões. Antes de assumir a direção da Andis, Spagnuolo já atuava como advogado pessoal de Javier Milei e frequentava com regularidade a Casa Rosada e a residência oficial de Olivos — em nível comparável ao de ministros de Estado, segundo dados apurados pelo La Nación e pela agência Chequeado.

Mesmo sem experiência na área social, Spagnuolo passou a gerir um orçamento bilionário voltado a pensões e benefícios para pessoas com deficiência. Sua administração foi marcada por cortes drásticos e medidas polêmicas. Em janeiro, uma resolução assinada por ele provocou forte reação ao classificar graus de deficiência intelectual com termos como “idiota” e “imbecil”.

◇ Investigação em andamento

A Justiça já obteve dois celulares entregues voluntariamente por Spagnuolo: um danificado e outro desbloqueado. O processo de recuperação das mensagens pode levar meses, mas os investigadores acreditam ser possível restaurar parte do conteúdo. O caso também envolve Daniel Garbellini, ex-funcionário da Andis citado como operador do esquema, além dos irmãos Jonathan e Emmanuel Kovalivker, donos da Suizo Argentina. Emmanuel foi detido com US$ 266 mil em espécie e 7 milhões de pesos argentinos; Jonathan entregou seu celular às autoridades dias depois.

Para avançar na apuração, a Procuradoria pediu apoio da empresa israelense Cellebrite, especializada em desbloqueio de dispositivos.

◇ Impacto político para Milei

O escândalo atinge diretamente o discurso anticorrupção de Javier Milei, que vinha usando a Andis como símbolo da “ineficiência estatal” ao justificar cortes e auditorias. A crise estourou em paralelo à derrota do presidente no Congresso, que derrubou seu veto a um aumento de recursos para pessoas com deficiência, justamente o setor administrado pela agência agora sob suspeita.

Após dias de silêncio, Milei defendeu publicamente a irmã Karina, mas evitou comentar diretamente as denúncias. Em um comício recente, reagiu a vaias afirmando que “estão irritados porque estamos roubando o roubo deles”, declaração interpretada pela oposição como uma confissão indireta.

Fonte: Brasil 247 com informações do jornal O Globo

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