
Na manhã desta sexta-feira (18), comerciantes e trabalhadores ocuparam a Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, em um protesto contra as medidas anunciadas pelo governo dos Estados Unidos sobre o comércio brasileiro. A manifestação teve como foco a imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, medida que afetaria diretamente as vendas e o comércio de produtos.
Cartazes, fantasias de políticos e bandeiras do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) marcaram o ato, que também teve a Polícia Federal (PF) acompanhando os manifestantes. O protesto se concentrou na Rua Carlos de Sousa Nazaré, uma travessa da famosa rua comercial, pouco depois de Jair Bolsonaro se tornar alvo de uma operação da PF.
Os agentes cumpriram mandados de busca e apreensão em sua residência em Brasília e na sede do Partido Liberal (PL), com a imposição de medidas restritivas, como o uso de tornozeleira eletrônica. Bolsonaro, que está sendo investigado pelo STF por envolvimento em uma suposta trama golpista, viu a Rua 25 de Março ser mencionada em um relatório como um dos principais polos de falsificação de produtos.
Durante o protesto, figuras de Trump e Bolsonaro, como “prisioneiro”, foram vistas carregando simbolicamente um saco de dinheiro, ilustrando as críticas contra a interferência dos Estados Unidos na soberania brasileira. Os manifestantes, em sua maioria comerciantes locais, exigiram o fim da interferência de Washington nos assuntos internos do Brasil e o reconhecimento da independência do comércio nacional.
Ricardo Patah, presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo (SECSP), organizador da manifestação, afirmou: “Enquanto sindicalista e cidadão, nós não podemos permitir que outro país possa querer ditar regras para o nosso país”.
Patah ainda ressaltou que questões como pirataria de produtos devem ser resolvidas pelas autoridades brasileiras, e não por decisões de um governo estrangeiro. “Porque lá nos Estados Unidos também tem a mesma coisa que tem aqui no Brasil”, completou.
Paulo Li, um comerciante chinês com 19 anos de atuação na 25 de Março, usou sua camiseta com o nome “Luis Vitao”, em uma crítica irônica à acusação de falsificação, fazendo referência à marca Louis Vuitton.
Ele expressou sua indignação com a medida de Trump, dizendo: “Eu saí da China porque lá já é difícil para trabalhar. Então a gente arrumou um lugar melhor, se esforçou bastante. Eu sou segunda geração no meu negócio, e mesmo assim o cara [Trump] está querendo vir atrás de gente”.
A movimentação gerou reações dentro do próprio setor sindical. Humberto Souza Oliveira Filho, atuante no SECSP, criticou a medida de Trump, que considera prejudicial à longa relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, com mais de 200 anos.
“Trump questiona o PIX, que é uma transação muito prática, e coloca em dúvida a idoneidade de comerciantes honestos que aqui estão”, afirmou o sindicalista, destacando que a medida visa mais a justificar uma agenda ideológica do que resolver problemas comerciais reais.
A taxa de 50% sobre as exportações de produtos brasileiros foi anunciada por Trump no início de julho e deverá entrar em vigor em agosto. A medida afetará não apenas o comércio de rua, mas também setores estratégicos da economia, como o agronegócio, a indústria e o aço. “Não à demissão” foi o grito mais entoado pelos manifestantes, que se opõem às consequências econômicas que a tarifa pode causar, como o aumento do desemprego no Brasil.
A Seção 301 da Lei Comercial dos EUA, que autoriza tais tarifas, foi solicitada por Trump e visa, entre outras coisas, a combater práticas comerciais que o governo norte-americano considera “injustas”.
A medida também foi justificada pelo presidente dos EUA com base no alegado “déficit comercial inexistente” entre os dois países, além da “distribuição e venda de produtos falsificados” na Rua 25 de Março. O governo dos EUA alega que a pirataria de produtos protegidos por direitos autorais é uma barreira significativa para a adoção de canais legítimos de distribuição de conteúdo.
Fonte: DCM
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