Alta nos preços afeta eletrodomésticos, café e roupas, enquanto cortes atingem milhares de trabalhadores nos setores de saúde e educação
Os primeiros impactos concretos da política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já aparecem nas estatísticas econômicas do país. Dados divulgados pelo Departamento de Estatísticas do Trabalho mostram que a inflação americana acelerou em junho, refletindo diretamente os efeitos da guerra comercial iniciada pela Casa Branca.
Segundo a RFI, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou alta de 2,7% em junho, na comparação anual — o maior salto desde fevereiro e acima dos 2,4% de maio. Esse avanço surpreendeu analistas e elevou a pressão sobre o governo Trump, que já enfrenta críticas crescentes sobre sua condução da economia, especialmente diante de um cenário de demissões em massa em agências federais.
Os setores mais impactados pela escalada inflacionária são justamente aqueles que dependem de importações e estão expostos às tarifas impostas por Trump contra parceiros comerciais estratégicos. Os preços dos eletrodomésticos subiram 1,9% em junho — mais do que o dobro do registrado no mês anterior (0,8%). Móveis tiveram elevação de 1% e roupas subiram 0,4%, revertendo quedas consecutivas que vinham sendo observadas.
Ainda conforme a reportagem, a chamada “inflação núcleo”, que desconsidera itens mais voláteis como alimentos e energia, também cresceu 2,9% em relação a junho de 2024, com alta mensal de 0,2%. O resultado reforça a avaliação de que os efeitos da guerra tarifária já se espalham de maneira consistente pelo custo de vida da população americana.
Em um novo capítulo da disputa comercial, Trump ameaçou aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de agosto. Entre os itens mais vulneráveis estão café, carne bovina e suco de laranja — pilares das exportações brasileiras.
No caso do café, os efeitos podem ser ainda mais graves. Já pressionado por uma oferta reduzida devido às secas no Brasil e no Vietnã, o preço médio de 450 gramas de café moído nos supermercados dos EUA saltou de US$ 5,99 em 2024 para US$ 7,93 em maio deste ano. Com a tarifa adicional, os custos devem subir ainda mais, impactando tanto o consumo doméstico quanto o setor de serviços, como cafeterias e restaurantes.
Do lado brasileiro, a medida representa um risco direto à pauta exportadora e ameaça aprofundar os prejuízos de um agronegócio que já lida com adversidades climáticas e econômicas.
Economistas alertam para o risco de uma disseminação ainda maior da inflação caso as novas tarifas prometidas por Trump — que atingiriam também a União Europeia, Canadá, México, Japão, Coreia do Sul e Tailândia — entrem em vigor em 1º de agosto. Segundo especialistas, a continuidade da escalada protecionista poderá frear o consumo interno e empurrar os EUA para uma recessão.
Paralelamente ao aumento de preços, o governo Trump implementou uma política agressiva de enxugamento da máquina pública. O Departamento de Saúde dos EUA formalizou nesta semana a demissão de milhares de funcionários após a Suprema Corte suspender uma liminar que barrava os cortes.
Com isso, foram efetivadas as demissões de cerca de 10 mil servidores, além da saída voluntária de outros 10 mil — uma redução que representa cerca de 25% da força de trabalho da pasta. O Departamento de Educação também foi autorizado pela Suprema Corte a demitir aproximadamente 1.400 funcionários, revertendo decisão anterior de um tribunal inferior.
Essas medidas fazem parte da estratégia de redução de gastos e descentralização do controle federal, especialmente na área da educação. No entanto, analistas alertam que os cortes podem comprometer a oferta de serviços essenciais à população em um momento de elevação do custo de vida e forte incerteza econômica. Além disso, o impacto sobre o consumo das famílias afetadas pelas demissões pode agravar ainda mais o desaquecimento da economia norte-americana.
Fonte: Brasil 247 com informações da RFI
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