Ex-presidente é acusado pela PGR de liderar organização criminosa armada e tentar abolir o Estado democrático
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderá ser condenado a uma pena de até 43 anos de prisão, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) acolha integralmente as acusações apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A peça acusatória, encaminhada ao STF neste mês, aponta Bolsonaro e outros sete ex-integrantes do governo como integrantes do núcleo principal de uma tentativa de golpe de Estado após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022.
Bolsonaro responde por cinco crimes: organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A pena mínima, somando os crimes, pode chegar a 12 anos e meio de prisão. A máxima, segundo juristas ouvidos por reportagem da Folha de S. Paulo, pode ultrapassar 43 anos, a depender de como os ministros do STF avaliarem agravantes e circunstâncias específicas.
★ Grupo central do golpe incluía ex-ministros e oficiais militares
Além de Bolsonaro, estão entre os réus o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, os ex-ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Walter Braga Netto (Casa Civil), o ex-comandante da Marinha Almir Garnier e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Todos são acusados de articular e executar um plano para subverter o resultado eleitoral e impedir a posse do presidente Lula.
O caso de Ramagem tem tramitação parcialmente suspensa devido à decisão da Câmara dos Deputados, mas os demais seguem com o processo em curso. A PGR apontou agravantes como o uso de armas, a participação de servidores públicos e, no caso de Bolsonaro, o exercício de liderança, o que pode elevar substancialmente as penas.
★ Especialistas preveem punição severa, mas sem alcançar o teto legal
De acordo com o professor Thiago Bottino, da FGV Direito Rio, a liderança de Bolsonaro na organização criminosa pode justificar uma pena mais alta. “As penas devem ser elevadas em situações como a de quem promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais”, afirmou. Ele pondera, no entanto, que a pena máxima dependeria da presença simultânea de todos os agravantes, o que considera improvável com base nas provas conhecidas.
A criminalista Marina Coelho, vice-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), avalia que a acusação da PGR é consistente e aponta para uma punição severa, embora também espere moderação por parte do STF. “Acredito que vão fazer uma ponderação nessas penas, avaliar a proporcionalidade a partir das causas de aumento e elevar a um patamar menor que o máximo”, disse.
Já Maria Carolina Amorim, presidente da Comissão de Direito Penal do Conselho Federal da OAB, adota tom mais cauteloso. “Cada pena vai ser dada de acordo com a participação de cada acusado naquele crime, de forma que calcularmos agora um patamar de quanto seria cada um é um exercício de futurologia”, afirmou à Folha.
★ Julgamento será balizador para os crimes do 8 de janeiro
Um levantamento recente do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, mostrou que penas já aplicadas a envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro variam entre três e 17 anos e meio de prisão, conforme a gravidade da conduta. A expectativa de juristas é que os réus apontados como líderes da trama, especialmente Bolsonaro, recebam sentenças mais severas para refletir a centralidade de seus papéis nos crimes.
O julgamento do ex-presidente e de seus aliados deverá servir como marco para a responsabilização de autoridades que atentam contra a democracia. A sentença final, ainda sem data definida, poderá consolidar o entendimento do STF sobre tentativas de ruptura institucional e definir os limites da tolerância jurídica com atos de insurreição política no país.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo
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