Deputado que já integrou a tropa de choque bolsonarista entregou carta escrita à mão pedindo perdão por ofensas ao ministro do STF em 2020
Otoni de Paula e Alexandre de Moraes (Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados | Carlos Moura/SCO/STF)
O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) entregou pessoalmente ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), uma carta escrita à mão em que pede perdão por declarações ofensivas feitas durante lives transmitidas em 2020. Na ocasião, o parlamentar se referiu ao ministro com termos como “canalha”, “esgoto”, “lixo” e “déspota”.
O encontro entre Otoni e Moraes ocorreu em Brasília, durou cerca de 15 minutos e foi descrito pelo deputado como respeitoso. Segundo ele, a iniciativa representa o reconhecimento de um erro motivado por forte emoção, incompatível com os princípios que diz defender como pastor da Assembleia de Deus há mais de 30 anos.
O gesto de retratação ocorre em meio ao processo no qual Otoni é réu por injúria, difamação e coação no curso do processo. A denúncia foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República em 2020, e aceita pelo STF em 2023. Moraes, que foi alvo direto das ofensas, se declarou impedido e não participa do julgamento. Ainda não há data para a decisão final da Corte, que pode resultar na perda do mandato parlamentar.
Na carta, o deputado afirma que reagiu de forma emocional após tomar conhecimento, pela imprensa, de uma decisão judicial que autorizava a quebra de seus sigilos bancário e fiscal. Ele diz que se sentiu exposto e desrespeitado, o que o levou aos ataques. Otoni também reconhece que sua atitude foi reprovada por sua denominação religiosa e que o vocabulário usado é inaceitável.
Durante a reunião, o parlamentar manifestou interesse em firmar um acordo de não persecução penal para evitar uma condenação. Moraes, segundo Otoni, foi receptivo e destacou que críticas institucionais são legítimas no exercício parlamentar, desde que respeitados os limites e que não haja ataques pessoais.
"Tenho consciência de que o julgamento pode resultar na perda do meu mandato e no fim da minha carreira política. Mas suplico a Vossa Excelência que me ajude a não viver essa vergonha diante dos meus filhos e da Igreja", escreveu o deputado na carta.
O gesto também sinaliza um distanciamento de Otoni em relação ao núcleo bolsonarista. Em fevereiro deste ano, ele foi derrotado na disputa pela presidência da Frente Parlamentar Evangélica, perdendo para Gilberto Nascimento (PSD-SP), candidato apoiado diretamente por Jair Bolsonaro. A aproximação de Otoni com o governo Lula e sua presença em eventos no Palácio do Planalto incomodaram líderes conservadores, como o pastor Silas Malafaia.
Fonte: Brasil 247
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