segunda-feira, 12 de maio de 2025

Imprensa italiana divulga fake news xenófoba sobre o Brasil e menciona seita de mulheres em busca de pensão

A reportagem, que misturava imagens turísticas do Brasil com cenas religiosas de cunho preconceituoso, estampava a manchete: “Italiano vítima de extorsão"

         Bárbara Zandomênico Perito (Foto: Reprodução Globo)

Uma disputa pessoal com contornos de difamação internacional tem mobilizado o sistema judiciário brasileiro e gerado indignação pública. O advogado e empresário italiano Nunzio Bevilacqua, com atuação no Brasil, acusou sua ex-namorada, a professora brasileira Bárbara Zandomênico Perito, de envolvimento com uma “seita de mulheres” que, segundo ele, engravidariam por meio de rituais satânicos com o objetivo de obter pensões alimentícias. A história foi veiculada em abril de 2024 pela RAI, principal emissora de televisão da Itália.

A reportagem, que misturava imagens turísticas do Brasil com cenas religiosas de cunho preconceituoso, estampava a manchete: “Italiano vítima de magia e extorsão no Brasil”, e afirmava que "inventam-se falsas paternidades para arrancar dinheiro". A história, porém, tem origem em Tubarão (SC), onde Bárbara conheceu Nunzio em 2021, quando ele se matriculou em suas aulas de português para estrangeiros.

"Desde o início ele já me apresentava como namorada dele. Eu achei isso um pouco estranho, mas também não comuniquei a ele. E acabei sendo, né?", relatou Bárbara em entrevista à TV Globo. Após uma viagem pelo Brasil, a professora descobriu que estava grávida. "Deu positivo. E ele ficou superfeliz", contou.

Mas a relação começou a se desgastar durante a gestação. Bárbara decidiu permanecer no Brasil, perto da família. "Comecei a pensar se talvez não seria melhor se eu ficasse na gravidez no Brasil, perto da minha família, porque era uma coisa nova, minha primeira filha, eu não sabia como seria. É tudo muito novo", disse. "E ele não aceitou muito bem."

Segundo Bárbara, pouco antes do nascimento da criança, em julho de 2022, Nunzio propôs se afastar totalmente. "Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: 'Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar convivência, acertar pensão'."

Após o nascimento, Nunzio exigiu um teste de DNA, que foi realizado em São Paulo — cidade escolhida por ele. “Ele me mandou uma mensagem dizendo que preferia fazer o exame em São Paulo, que ele não queria ver Bárbara novamente”, afirmou Matheus Livramento, ex-advogado do empresário. O exame confirmou a paternidade, mas mesmo assim, Nunzio pediu novo teste, o que foi negado pela Justiça.

A partir daí, o italiano passou a propagar a tese de que teria sido vítima de um golpe arquitetado por uma organização criminosa no Brasil. Ele alegou que Bárbara fazia parte de uma seita que promovia orgias e fertilizações misteriosas para gerar “crianças sobrenaturais” com fins lucrativos. "Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível", afirma Bárbara. "Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas."

A acusação sem provas envolveu nomes de membros do Ministério Público de Santa Catarina, médicos, políticos, grupos religiosos e até parentes de Bárbara. Como resposta, a defesa da brasileira entrou com ação criminal no Brasil por calúnia, difamação e perseguição (stalking), todos crimes praticados por meio digital.

“Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Bárbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade”, afirmou Vitor Poeta, advogado da professora.

Com a gravidade das acusações e a exposição indevida da mãe e da criança, a Justiça Federal brasileira concedeu a Bárbara medidas protetivas. Nunzio está proibido de se aproximar dela e da filha, mantendo distância mínima de três quilômetros. Também não pode entrar em contato por nenhum meio de comunicação.

Em 2023, jornalistas italianos enviados ao Brasil chegaram a filmar Bárbara e a criança na rua, sem autorização. "Nós temos um pouco de receio do que pode acontecer pelo tamanho que essa história tomou e pela vinda de repórteres, vinda de profissionais contratados por ele que foram atrás de familiares, invadiram a casa dela. Isso, de forma criminal, é o que a gente pode fazer aqui no Brasil", disse o advogado.

Hoje, Bárbara segue morando em Tubarão, onde cria a filha de três anos sem qualquer apoio financeiro de Nunzio. Ele ainda não reconheceu formalmente a paternidade.

"Eu não faço parte de seita nenhuma. Não existiu golpe de nenhum tipo. Existia um relacionamento que não deu certo e, desse relacionamento, existe uma criança — que é saudável, minha filha, filha dele, que vive e está aí. É isso que existe nessa história", conclui Bárbara.

Fonte: Brasil 247

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