Objetivo é evitar uma maioria bolsonarista na Casa, nem que para isso sejam necessárias mais alianças com partidos de centro e centro-direita
Lula e Humberto Costa (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
A cúpula do PT pode adotar uma estratégia pragmática nas eleições de 2026: abrir mão de candidaturas próprias ao Senado em alguns estados e apoiar nomes de partidos aliados como MDB, PSD e PSB. O objetivo é conter o avanço do bolsonarismo na Câmara Alta e evitar uma maioria de oposição que possa dificultar o eventual quarto mandato do presidente Lula (PT), informa a Folha de S. Paulo.
A articulação eleitoral passa diretamente pelo temor de que Jair Bolsonaro (PL), inelegível, organize uma ofensiva para eleger aliados ao Senado. A preocupação do PT é que o bolsonarismo use o espaço para tensionar o Supremo Tribunal Federal (STF), defender anistia a envolvidos nos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023 e barrar indicações do governo ao Banco Central e às agências reguladoras.
Bolsonaro e seu grupo devem escalar nomes de confiança para a disputa — entre eles, Michelle, Flávio e Eduardo Bolsonaro, todos filiados ao PL. Atualmente, a legenda bolsonarista detém a segunda maior bancada do Senado, com 14 parlamentares, oito deles com mandato até 2031.
Frente a esse cenário, o presidente nacional do PT, senador Humberto Costa, confirma a movimentação: “estamos em uma fase de diagnóstico para começar as conversas internas e com partidos aliados. A nossa expectativa é construir uma bancada lulista e impedir que a extrema direita possa fazer maioria, o que seria um problema”.
Petistas que buscarão reeleição e nomes já colocados - O PT tem atualmente nove senadores, mas seis deles terminam o mandato em fevereiro de 2027. Cinco devem tentar renovar suas cadeiras: Jaques Wagner (BA), Humberto Costa (PE), Rogério Carvalho (SE), Fabiano Contarato (ES) e Randolfe Rodrigues (AP) — estes dois últimos eleitos pela Rede Sustentabilidade e que migraram para o PT durante a legislatura.
A única exceção é o senador Paulo Paim (RS), que já anunciou que não buscará um novo mandato. O favorito à sua sucessão é o deputado federal e ex-ministro Paulo Pimenta.
Além disso, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), é considerada o único nome certo do partido para o Senado em 2026. Ela encerra seu segundo mandato e é vista como favorita.
Outros nomes também estão no radar, mas dependem de composições locais. No Distrito Federal, a deputada Erica Kokay (PT) deve disputar uma vaga. No Amazonas, o ex-deputado Marcelo Ramos tenta viabilizar sua candidatura. No Rio de Janeiro, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, cogita o Senado, mas admite a possibilidade de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Conflitos internos e negociações com aliados - A disputa na Bahia é emblemática. O ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), articula sua candidatura ao Senado, o que provocou tensão na base aliada do governador Jerônimo Rodrigues (PT), já que os senadores Jaques Wagner (PT) e Angelo Coronel (PSD) também desejam reeleição. A possibilidade de uma chapa com Rui Costa e Jaques Wagner vem sendo cogitada, mas o PT local caminha com cautela para evitar rupturas.
No Ceará, o deputado José Guimarães (PT), líder do governo na Câmara, deseja uma vaga ao Senado. Porém, enfrenta resistências de aliados do governador Elmano de Freitas (PT). Nomes como Eunício Oliveira (MDB), que tenta retornar ao Senado, o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos) e o deputado Júnior Mano (PSB), com apoio de Cid Gomes, compõem o tabuleiro eleitoral.
No Piauí, o PT pressiona por candidatura própria, mas o governador Rafael Fonteles (PT) sinaliza apoio a Marcelo Castro (MDB) ou Júlio Cesar (PSD). Em Alagoas, Lula deve respaldar a tentativa de reeleição de Renan Calheiros (MDB), o que pode inviabilizar o projeto do deputado Paulão (PT).
São Paulo e Rio: nomes indefinidos - Em São Paulo, um dos maiores centros eleitorais do país, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) é apontado como nome viável para enfrentar o deputado Eduardo Bolsonaro (PL). No entanto, há pressão para que Alckmin permaneça como vice na chapa presidencial de Lula.
Já no Rio de Janeiro, o quadro é mais incerto. Aliados do prefeito Eduardo Paes — que deve ter o apoio de Lula na eleição estadual — discutem os nomes do deputado evangélico Otoni de Paula (MDB) e do ex-deputado Alessandro Molon (PSB) para a disputa ao Senado.
A estratégia nacional petista está clara: mais que hegemonia partidária, o foco será derrotar o bolsonarismo. Em estados como o Amazonas, o partido deve priorizar o apoio a nomes como o senador Eduardo Braga (MDB), que enfrentará o bolsonarista Capitão Alberto Neto (PL). A lógica deve se repetir em diversas unidades da federação: alianças pragmáticas para evitar a formação de uma maioria conservadora no Senado que possa minar a governabilidade de Lula a partir de 2027.
Fonte: Brasil 247 com informações da Folha de S. Paulo