Movimento reivindica remuneração justa, segurança nas rodovias e mudanças no marco regulatório do transporte de cargas
Caminhoneiros preparam paralisação nacional por melhores condições (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Caminhoneiros de diversas regiões do Brasil articulam uma paralisação nacional para a próxima quinta-feira (4), com atos previstos em vários estados. Lideranças da categoria afirmam que a mobilização não tem caráter partidário nem está ligada a qualquer sigla política, mas é impulsionada por reivindicações econômicas e trabalhistas diante do agravamento das condições de trabalho nas estradas.
De acordo com reportagem do portal Metrópoles, representantes de caminhoneiros voltam a tentar organizar um movimento de alcance nacional após uma tentativa frustrada de greve, na semana anterior, que tinha como mote a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e acabou esvaziada por falta de adesão. Agora, o discurso das lideranças se concentra em pautas específicas da categoria, como remuneração, segurança e regras para o transporte de cargas.
Um dos articuladores da nova mobilização é o caminhoneiro Daniel Souza, influenciador digital com quase 100 mil seguidores no TikTok e que teve atuação destacada na greve de 2018. Ele afirma que a classe vive uma situação de deterioração contínua. “O Brasil ficou parado por 3 anos por conta dessa situação e, como já acabou a questão do Bolsonaro, vamos voltar à realidade do país. A realidade dos caminhoneiros está precária: baixa remuneração, leis que não conseguimos cumprir por falta de estrutura, falta de segurança nas rodovias, o respeito com a nossa classe acabou”, enumera o caminhoneiro Daniel Souza.
Entre as principais demandas, as lideranças falam em estabilidade contratual para o caminhoneiro e garantia de cumprimento das leis que regulam a atividade. Também cobram a reestruturação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas e defendem uma aposentadoria especial após 25 anos de trabalho, comprovada por recolhimento previdenciário ou emissão de documento fiscal. Para os organizadores, essas medidas seriam fundamentais para reduzir a insegurança jurídica, melhorar o rendimento e dar condições mínimas de planejamento de vida à categoria.
No Sul do país, a mobilização também ganha eco. O presidente da Associação Catarinense dos Transportadores Rodoviários de Cargas (ACTRC), Janderson Maçaneiro, conhecido como Patrola, avalia que o movimento tem potencial para ganhar corpo. “Eu acredito muito no movimento forte porque tem muita gente envolvida e há muitos descontentes”, afirma, ao associar a força da paralisação ao crescente descontentamento com a situação nas estradas, nos contratos e na remuneração dos fretes.
Entidades representativas, porém, destacam que a decisão de cruzar os braços parte dos próprios motoristas. O Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens (Sindicam) ressaltou que não é o responsável direto por convocar a greve, mas admite que pode dar suporte ao movimento caso haja adesão espontânea. Segundo a entidade, “quem faz a greve são os caminhoneiros, não é o sindicato quem faz greve, mas, se eles decidirem parar, serão apoiados”.
Apesar da movimentação em torno da data, não há consenso entre sindicatos, associações e cooperativas de caminhoneiros. Na Baixada Santista, em São Paulo, parte dos autônomos se coloca contra a paralisação, sob a avaliação de que haveria interesses políticos por trás do chamado. Marcelo Paz, presidente da Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos do Porto de Santos (CCAPS), uma das maiores da região, afirma que não houve qualquer deliberação formal para um ato no complexo portuário. “Não chamaram assembleia, não houve votação […] Para se ter uma movimentação dessas, precisa haver diálogo, assembleia e votação”, pontua.
A falta de alinhamento entre lideranças regionais e nacionais expõe divergências sobre a melhor estratégia de pressão e sobre o risco de desgaste com uma nova paralisação de grande porte. Enquanto parte da categoria quer aproveitar o momento para recolocar na agenda temas como remuneração do frete, segurança nas rodovias e aposentadoria especial, outros caminhoneiros temem que a greve seja capturada por disputas políticas e acabe sem resultados concretos.
A memória da greve de 2018 segue presente nas discussões. Naquele ano, caminhoneiros de todo o país paralisaram as estradas em um movimento que durou dez dias, com foco nos reajustes constantes dos combustíveis, em especial do óleo diesel. A paralisação provocou desabastecimento de combustíveis e alimentos em várias regiões e pressionou o governo federal. O movimento só foi encerrado após o acolhimento de parte das reivindicações apresentadas pela categoria, o que consolidou o peso político dos caminhoneiros na agenda nacional.
Agora, diante da convocação para 4 de dezembro, líderes e entidades do setor voltam a medir forças e a testar o grau de insatisfação da categoria. A adesão efetiva dos motoristas nas estradas e nos principais corredores de escoamento de cargas deve definir se o novo chamado resultará em uma paralisação de grande impacto ou se ficará restrito a pontos isolados de mobilização pelo país.
Fonte: Brasil 247 com informações do Metrópoles